domingo, 24 de dezembro de 2017

Obrigado, João!



Onde você estava oito anos atrás? O que você fazia? Eu estava entrando na faculdade. Tinha 17 anos. Dirigir? Nem pensar. Muita coisa aconteceu na minha vida nesse tempo. Namorei, terminei e namorei de novo. Terminei graduação, mestrado e agora sou doutorando. A copa chegou na África e voltou ao Brasil. A chama olímpica conheceu o Rio e voltou a brindar o Tâmisa. Mudamos de presidente, duas vezes. Imagino que se você parar pra pensar em tudo que aconteceu nesse tempo muito passará pela memória e muito mais passará batido junto com a areia do tempo.
Mas esse texto não é sobre mudanças. Esse texto é para humildemente falar de uma história sólida. Como ferro. Em 2009 chegava ao alvinegro cearense, João Marcos Alves Ferreira. Quantas vezes o observei. Formou assim que chegou um dos meios-campos mais sólidos a passar pelo Nordeste com Michel e Heleno. Nascia um novo ídolo.

                             João comemora seu segundo acesso à Série A  com a camisa do Ceará

Durante esses oito anos consolidou a fama e a forma de volante. Tornou-se indispensável, idolatrado. Participou de uma das fases de maior sucesso do time que amo. Cinco estaduais, uma copa do Nordeste invicto, 2 acessos. Incontáveis momentos de extravaso ao vê-lo encerrando a jogada adversária sem pestanejar. Com sobras. Se duvidares, pergunte ao Neymar.
Em um futebol tão mercantilizado em que vivemos é comum escutar que os jogadores de hoje não são como os de outrora. Ficamos a escutar as histórias de torcedores com mais tempo de bancada sobre os ídolos que construíram a história do time que amamos. Contudo, é nosso dever estar atento para quando a história passa diante dos nossos olhos. Quando novos ídolos nascem.
João Marcos já possui bandeira, música e história no Ceará Sporting Club. Acertadamente terá treinamento e um emprego nas bases do clube. Terá também a memória de centenas de milhares de torcedores que dirão ao seus filhos, “sim filho, eu vi o João Marcos jogando” e riremos quando nossos filhos ou netos não acreditarem nos lances. Terá sempre o nome em cada conquista. Terá sempre o meu muito obrigado!


Com João, o Ney não se cria...

Oliveira Terceiro

terça-feira, 21 de novembro de 2017

A melhor escola é o futebol.



Voltava para casa depois do empate do Ceará no Castelão contra o América-Mg em setembro de cabeça baixa. O time perdera mais pontos essenciais na tentativa de subir de divisão e  fora dominado na maior parte da partida por um clube que brigava diretamente pelo acesso. Refiz o caminho até minha casa e meu quarto repassando os lances do jogo, escutando análises e tentando aceitar que o ano de 2017 não teria o final desejado. Estava conformado.

Pouco mais de dois meses depois daquele jogo, a metade alvinegra da capital alencarina está mais uma vez em júbilo. Buzinas, camisas e sorrisos transformam a cidade. Após 6 anos jogando a segunda divisão, voltamos à elite. Conseguimos!
A confiança no time demorou a voltar mais do que me permito dizer. E, olhando para a certeza daquele dia azedo de setembro, reconheço que o futebol, sempre ele, trás mais uma lição para a vida. Naquela época eu e quantos mais torcedores pensamos que o acesso não viria. Voltamos para casa e tentamos dar continuidade à labuta de cada dia. Fracassei algumas vezes. Parava e me chateava novamente com o jogo. Teimoso.

Teimosos também foram Éverson, Cameta, Pio, Rafael Pereira, Luiz Otávio, Romário, Rafael Carioca, Raul, Richardson, Pedro Ken, Ricardinho, Lima, Roberto, Elton, Leandro Carvalho, Magno Alves e Marcelo Chamusca. Obrigado pela teimosia. Teimosia em forma de dedicação e profissionalismo. Teimosia de permanecer em busca das oportunidades e objetivos. Teimosia de refletir sobre o revés e voltar melhor no próximo dia. Teimosia que os coloca na memória de milhões de torcedores de um time centenário. Teimosia que me lembrou que a vida é feita de trabalho em busca de objetivos e o prazer do sucesso.

Naquele dia de setembro quase tudo ao meu redor parecia conspirar contra mim, pessoalmente e profissionalmente. Hoje meros dois meses e poucos depois, todos os problemas daquela época foram resolvidos. E isso só aconteceu porque ao acompanhar O mais querido continuei exercitando minha teimosia. Não me conformei.

Pelas lições de vida, mais uma vez, obrigado Ceará Sporting Club.



Oliveira Terceiro.

quarta-feira, 15 de novembro de 2017

O que esperar de Rogério Ceni no comando do Leão?

Tá,  eu sei que o Corinthians acaba de ser tornar hepta campeão brasileiro, mas peço licença pra falar de outro assunto que também foi notícia exaustivamente comentada e televisionada ontem: a apresentação de Rogério Ceni no Fortaleza EC. Prometo escrever este texto da forma mais imparcial e técnica possível, mesmo sabendo que, como torcedor do São Paulo e do Fortaleza, além de fã incondicional do Rogério, é bem difícil, afinal, estamos falando do MAIOR GOLEIRO DA HISTÓRIA DO FUTEBOL...tá, parei. :)


Tudo começou no domingo, dia 29.10, quando o ex-goleiro do São Paulo visitou as instalações do tricolor do Pici. As informações davam conta de que havia sido nada mais do que uma visita ao seu ex-companheiro de São Paulo e atual preparador de goleiros do Leão, o também ex-goleiro Bosco. Mas, como onde há fumaça, há fogo, logo pipocaram rumores de que a diretoria do Fortaleza estaria interessada na contratação de Ceni para o vacante posto de treinador da equipe, após o distrato com o técnico do acesso, Antônio Carlos Zago. Pouco mais de 15 dias - e muita especulação - depois, aqui estamos, com a confirmação e a consequente apresentação - numa festa extensamente acompanhada durante todo o dia pela mídia do eixo RJ-SP - de Rogério como técnico do Fortaleza para a temporada do centenário(2018). 

Rogério em visita ao Pici, no dia 29.10.17

Mas, afinal, o que podemos esperar? Vai dar certo? Rogério se adaptará a um clube de estrutura e orçamento bem menor do que quando comparado ao do gigante do Morumbi? Foi uma boa aposta da nova diretoria do Leão?

De cara, temos algumas respostas: o 'boom' ocorrido nas redes sociais do Fortaleza e o absurdo e imediato crescimento da cobertura da grande mídia para com o clube representam os primeiros aspectos positivos da contratação do ex-goleiro. Desde a confirmação do acerto com Ceni, tivemos expressivo aumento do número de seguidores/curtidores das páginas do clube. Nessa onda, a diretoria já anunciou a criação de uma nova modalidade de sócios, Leão Pelo Brasil, que permite a associação de torcedores que não moram no estado, mediante o pagamento de mensalidade de R$15,00. Se parte da imensa massa são-paulina que tem se manifestado nas redes sociais do clube(inclusive prometendo se associar e comprar produtos do clube) comprar essa ideia, o Fortaleza já passa a contar com uma renda que não estava nos planos. 

As outras respostas podemos deduzir, após assistir a coletiva de imprensa de apresentação de Ceni:

- Rogério veio pela insistência do novo presidente do clube, Marcelo Paz. Após a renúncia do agora ex-presidente do acesso Luiz Eduardo Girão, parte da torcida via com desconfiança o apontamento de Marcelo. Com essa bela cartada de marketing, o novo mandatário tricolor marca um gol de placa com a torcida. 

- A promessa de um ano de contrato, ser o ano do centenário, a presença do amigo Bosco, o alto salário(fala-se na casa de 150 mil reais), porcentagem de ganho nos produtos do clube que levem sua marca, além da liberdade de montar sua comissão técnica e parte do elenco, são fatores chave que fizeram com que Rogério dissesse sim à oferta.  

- O ex-goleiro demonstrou bastante vontade de começar o trabalho, de aprender sobre a história do clube, de conhecer a torcida, ou seja, de pôr a mão na massa. Ciente de que o orçamento não chega nem perto do que dispunha no São Paulo, Rogério já sabe que vai ter que contar com algumas peças que já renovaram contrato, prometeu olhar com carinho a base e deve utilizar da sua rede de contatos(além do apelo que tem seu nome) pra trazer alguns bons jogadores - que ele mesmo deixou claro, "estejam interessados em vestir e lutar pela camisa do Fortaleza" - que condigam com o que representa esse ano do centenário, além de respeitar o limite financeiro proposto pela diretoria.

- Por fim e não menos importante, após o fracasso de sua passagem no comando do São Paulo, Rogério encontra um ambiente onde foi bem recebido, num time grande, de torcida de massa e que, mesmo não tendo a mesma visibilidade dos clubes do eixo RJ-SP-MG-RS, lhe dá a oportunidade de desenvolver um bom trabalho(a conquista do cearense e uma boa campanha na série B, brigando pelo acesso) e, quem sabe, lhe abra portas para alçar vôos mais altos. 

Rogério ganha com a venda de produtos e o clube cutuca o rival

Mas e a desconfiança de parte da torcida? 

No comando do São Paulo, os números apontam: 35 partidas oficiais, 14 vitórias, 11 empates e 10 derrotas. 55 gols marcados e 42 sofridos. O aproveitamento de pouco mais de 50% não foi suficiente para superar a pressão das 3 eliminações sofridas no ano(Paulista, Copa do Brasil e Sul-Americana). A análise crua dos números, entretanto, camufla a realidade. Rogério - como ele mesmo ressaltou por várias vezes na coletiva - teve seu time desmontado. O São Paulo fez mais de 180 milhões de reais de caixa com a venda de jogadores recém subidos da base pelo próprio Rogério como Lyanco, David Neres, Thiago Mendes, Luiz Araújo, além do experiente zagueiro Maicon. Além disso, o reforço ou re-investimento desse dinheiro no time foi quase nulo. Desse jeito, não há planejamento que se sustente. Basta analisarmos que, após a troca por Dorival, o São Paulo trouxe jogadores de peso como Hernanes e Petros. A diferença já se mostra na posição do clube na tabela de classificação do Brasileirão...o problema era mesmo Rogério? A impressão que fica é a de que o ex-goleiro foi usado pela diretoria para ganhar a eleição, reforçada pela reação da torcida, que apoiou quase que unanimemente o ex-goleiro ante o racha com a diretoria.

Enfim, o futebol no Brasil é feito de resultados. Toda euforia e apoio da torcida do Fortaleza à Rogério só se manterá se os resultados vierem em campo. Paciência é necessária, coisa que (reflexo dos sofrimentos dos últimos anos) anda meio em falta na massa tricolor. Mas Rogério tem tudo pra dar certo. É um estudioso da bola, se preparou com inúmeros cursos e estágios em grandes clubes europeus, têm contatos no meio do futebol pra trazer bons nomes e terá, na medida do possível, condições para desenvolver seu trabalho. 

Num ano tão importante e único, após tantos dissabores, a torcida do Leão mal pode esperar que o M1t0 são paulino se transforme também no M1t0 tricolor, mas agora do Pici.

Rogério em coletiva, ao lado da diretoria do Leão


Curtinhas da coletiva:

- "Vamos tentar achar no mercado jogadores que dentro do padrão salarial do Fortaleza possam vestir a camisa do Fortaleza, que tenham prazer e orgulho de vestir essa camisa. Eu vim aqui pra ganhar, para ganhar jogo após jogo.”

- "[...]lá (no São Paulo)foi o processo contrário, foi retirando peça por peça. Aqui vamos trazer jogadores que estejam até o fim do campeonato, especialmente grande parte do time até o fim do ano na disputa da Série B.”

- "Estou muito feliz de estar aqui. Sei que o Fortaleza subiu para a Série B e que o São Paulo é um time que já se encontra em um patamar mais elevado, disputando outros títulos. Mas o futebol é igual em todo lugar, desde que seja feito com amor e paixão."


quinta-feira, 5 de outubro de 2017

A Supertição Tricolor



       Antes de mais nada, devo dizer que comecei a escrever esse texto no dia 22 de setembro de 2017, dois dias antes do primeiro jogo Fortaleza e Tupi-MG válido pela Terceira Divisão do Campeonato Brasileiro de Futebol. No final dessa crônica, você entenderá o porquê dessa revelação.

       Talvez, o Fortaleza seja o clube mais envolvido em superstições no futebol profissional brasileiro nos últimos anos. Muito devido às eliminações nas quartas-de-final da Série C do Campeonato Brasileiro de Futebol. O tricolor cearense figura nesta série desde 2010, tendo seu acesso batido na trave pelos quatro vezes, no famigerado mata-mata. 

       Para quem não conhece como se dá o sistema classificatório da Série C, aí vai uma explicação bem rápida. Os clubes são divididos, de acordo com sua região de origem, em dois grupos com 10 times. Os quatro primeiros colocados do Grupo A (formado por equipes das regiões Sul e Sudeste) disputam por quatro vagas contra os quatro primeiros do Grupo B (formado por equipes das regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste) num formato eliminatório, onde os dois primeiros de cada grupo tem a vantagem de pegar os piores colocados do outro grupo e fazer a partida decisiva em casa. Assim, temos a classificação decidida numa quarta-de-final, onde os quatro times que conseguirem vencer o primeiro “mata-mata” tem seu acesso garantido. 

       Pois bem, o Fortaleza conseguiu a classificação para as quartas-de-final dos anos de 2012, 2014, 2015 e 2016 sempre na primeira posição do Grupo B. Teoricamente, enfrentaria o mais fraco dos classificados da outra chave. E em todos os “mata-mata” o Tricolor de Aço foi eliminado em casa e sempre com o estádio abarrotado com sua torcida tão leal. O favoritismo de decidir em casa, contra o quarto colocado do Grupo A nunca adiantou no caso tricolor. E assim, só nos resta a seguinte dúvida: o que falta para o Tricolor de Aço conseguir o acesso?”
Toinha pagando promessa após a classificação contra o Tupi em Juiz de Fora. Fonte: Esporte Interativo.

       Mesmo que existam explicações plausíveis para o insucesso tricolor, muitos torcedores apelam para a superstição. É a roupa que não deu sorte, a promessa que não conseguiu cumprir, o amigo azarado que vai para o estádio ou até mesmo o elenco de jogadores que é pé frio. Esta última, foi a razão dada por um cronista esportivo local. Vai entender?   

     Há, também, aqueles que apelam para teorias da conspiração. Ano passado, após a última desclassificação frente ao Juventude, enquanto estava na fila do caixa eletrônico, ouvi a conversa de dois amigos sobre a eliminação tricolor, quando um deles falou: “isso é culpa do canal que tem os direitos de transmissão da Série C, eles fizeram um contrato com o Fortaleza de 10 anos.   O Fortaleza tem que passar 10 anos na terceira divisão”.

       Felizmente, a teoria desse camarada estava errada. Sim, o Fortaleza subiu para a Série B e não precisou dos 10 anos de contrato com o canal de televisão. Muitos foram para o estádio com suas camisas da sorte que sempre usam em jogos decisivos e com os mesmos amigos “pés frios” que sempre estão juntos na arquibancada. Ah, e no time desse ano ainda têm alguns jogadores remanescentes das eliminações anteriores. Superstição? Quanta besteira!

       Então por que deixei para postar esse texto apenas 13 dias depois da nossa classificação? A superstição me impediu. Enquanto escrevia, lembrei que ano passado, um dia antes do “mata-mata”, postei um texto sobre este jogo decisivo. Como torcedor, preferi esperar e não postar antes do jogo desta vez.  Vai que foi justamente o meu texto que não deu sorte?  

       Não adianta, por mais que estejamos num mundo cada vez mais racional e científico, no futebol sempre teremos espaço para os rituais, o sagrado e o azar.

sábado, 26 de agosto de 2017

Cobrança legítima - até onde?

Na última quinta-feira, 24/08, os jornais esportivos cearenses deram conta da agressão sofrida na noite anterior pelo meia Everton, do Fortaleza. As informações eram de que um grupo de "torcedores" do time tricolor haviam se dirigido até a residência do jogador, em Maranguape, no intuito de cobrar do atleta mais empenho e dedicação, frente a má fase do clube e do próprio. Pelo que foi noticiado, Everton se encontrava na calçada, junto de sua família, assistindo ao tradicional jogo de quarta-feira na TV e, ao perceber a chegada dos elementos, entrou em casa.



No dia seguinte ao ocorrido o atleta não treinou, se reuniu com a diretoria e está fora do - importantíssimo - jogo de domingo contra o CSA, o primeiro dos últimos três jogos da fase classificatória e que tem fundamental papel nas pretensões de classificação do Tricolor de Aço para a fase final da competição. Em entrevista informal por Whatsapp ao jornal O Povo , a esposa do atleta, que não teve seu nome revelado, deu maiores esclarecimentos sobre o fato: não houveram agressões físicas ou rojões, como especulado. Ainda segundo ela, o grupo estava calmo, salvo exceções de um ou dois sujeitos, tendo o "presidente-representante" sido educado e permitida sua entrada dentro de casa, visto que o mesmo queria dialogar com o jogador, não sendo possível, dado que Everton estava prestando assistência a avó (que devido a abordagem, estava a se sentir mal).

Isto dito, fatos postos, história explicada, fica o questionamento: COMO ISSO, POR QUALQUER MANEIRA QUE SEJA, VAI AJUDAR O JOGADOR OU O GRUPO NO OBJETIVO FINAL, QUE É O ACESSO À SÉRIE B DO CAMPEONATO BRASILEIRO? A minha resposta(e imagino que a da maioria das pessoas minimamente coerentes e que conhecem como pensam os jogadores) é: nenhuma. Tal comportamento é reprovável de todos os pontos de vista possíveis. Lugar de torcedor é na arquibancada. É lá que ele deve apoiar, incentivar e cobrar quando necessário. Lá ele pode xingar o juiz, o presidente, o jogador e até a mãe de todos eles(tá, xingar a mãe é pesado).

 Everton comemorando um de seus 14 gols com a camisa tricolor

"Ah, mas sou eu que pago o salário do jogador", "Ah, mas jogador ganha muito, tem de ser cobrado mesmo", "Ah, o cara bebe todo santo dia", "Ah, o cara não tá rendendo nada". Me desculpem os que pensam assim, mas nenhuma das alternativas acima justifica tal comportamento. Nenhum profissional, seja qual for a área que atue, merece ter seu descanso, sua casa, sua vida pessoal(mesmo sendo uma pessoa pública), sua privacidade e de sua família invadida desse jeito.

Resta agora ao novo treinador tricolor, Antônio Carlos Zago - que ainda nem estreou -, descascar esse abacaxi. Quanto ao jogador, que ao que tudo indica vá mesmo rescindir seu contrato, é notável que não apresenta os mesmos níveis técnicos mostrados em 2015 ou 2016. A questão é que o time todo também não está. A culpa não é exclusivamente do atleta, o elenco é nitidamente o mais fraco dos últimos anos e ninguém(talvez à exceção do goleiro Marcelo Boeck) vem se destacando. A despeito de um polêmico suposto acerto com o rival Ceará antes de sua chegada em março, Everton sempre se declarou torcedor do Fortaleza, apresentou bom nível técnico e muita raça nas mais de 70 partidas realizadas com a equipe tricolor e, vale lembrar, já jogou final de Cearense com o ombro gravemente machucado no fatídico ano de 2015(alguém disse Cassiano? :] ).

O choro de alegria e dor com o título e o ombro machucado em 2015

Com uma opção a menos no já parco setor de criação de jogadas e em um momento em que as inscrições já estão encerradas, o Fortaleza sofrerá pra substituir Everton. De aproveitável cite-se a reação da torcida que, em sua maioria, condenou os atos dessa 'meia dúzia' de irresponsáveis, culpados de envergonhar a gigante massa tricolor, além de manchar a reputação do clube diante de jogadores que pensem em vir a assinar com o clube. Note-se que as cobranças de torcida à elencos que tenham mal desempenho não é coisa nova. Neste mesmo momento em que escrevo, noticia-se a invasão do CT do Goiás, acontecida hoje a tarde, com direito a agressão de jogador que fazia reabilitação no DM e depredação da sede do clube. Mas daí a ter-se o absurdo de um jogador ser cobrado em sua própria casa, diante de seus familiares, há um longo caminho a percorrer e que, esperamos, não se torne conduta padrão por parte dos "torcedores".   

Forte abraço.  


segunda-feira, 21 de agosto de 2017

O terror do City ataca novamente.

Ao fim da última temporada, o casamento de 13 anos entre Wayne Rooney e o Manchester United chegou ao fim. Com um currículo invejável carregado de muitos títulos - 5x Premier League, 1x Copa da Inglaterra, 4x Copa da Liga, 1x Liga dos Campeões, 1x Mundial Interclubes - e, de quebra, tendo batido o recorde da lenda Bobby Charlton como maior artilheiro do clube na história com 250 gols, Rooney deu adeus de forma melancólica. 

Pouco vitorioso, o rapaz...

De capitão e titular no início da temporada, Rooney teve aos poucos seu papel diminuído na equipe pelo treinador José Mourinho. Não que a culpa fosse do português. Na verdade, a queda no nível técnico e físico (que já vinha dando claras mostras desde pelo menos duas temporadas atrás), o esquema adotado por Mou e a estelar temporada de Zlatan Ibrahimovic relegaram as contribuições do inglês a participações em partidas menos importantes e a entradas nos minutos finais dos jogos da Premier League(quando tanto). Mesmo assim, teve sua atitude e importância para o time frequentemente ressaltadas pelo treinador, que, evitando polêmicas em sua primeira temporada no comando da equipe, deixou Rooney a vontade para decidir seu futuro. 

Após o gol da quebra do recorde em janeiro, contra o West Ham, parecia claro que Rooney iria embora. O tão esperado gol havia saído e a sensação de dever cumprido era evidente. Mesmo assim, há de se ressaltar, em nenhum momento o então capitão de faz de conta reclamou ou fez birra. Na final da Europa League, com o resultado por 2x0 contra o Ajax garantindo o título, foi colocado em campo aos 44' do segundo tempo, de forma a ser aplaudido e levantar a taça. Missão cumprida.
Rooney e sua última taça com o United

Novo desafio, novos ares, mas nem tão novos. Rooney acertou a volta ao clube que o revelou, o Everton FC. Boas vindas calorosas por parte do clube e da torcida(esquecendo ambas as partes os inúmeros insultos e abusos trocados nos jogos em Goodison Park quando Rooney vestia vermelho ao longo dos anos), muitas fotos, declarações de amor e fidelidade e muitas, muitas dúvidas sobre a real capacidade do atacante em ainda fazer a diferença na liga mais difícil do mundo. Questões sobre o condicionamento físico do atleta, além da técnica decadente pairavam como nuvens no céu de Liverpool. 

Rooney apresentado: sorrisinho amarelo de quem esqueceu os insultos sofridos

Que venha a pré-temporada. Dia 13/07, amistoso contra o Gor Mahia, do Quênia: golaço de fora da área. "Ah, mas é só pré-temporada", eles disseram. Ok. 12/08, estréia na Premier League contra o Stoke City. 1x0 e o gol da vitória marcado por ele. 21/08, Etihad Stadium, jogo contra o estrelado City de Pep Guardiola: 1x1, mais um gol do inglês e os citizens penando pra arrancar um empatezinho.

Lógico que é começo de campeonato. Lógico que ainda há muita água pra rolar. Entretanto, o desempenho de Rooney até agora é pra deixar em polvorosa a torcida dos Toffees. Um time compacto e bem montado pelo holandês Ronald Koeman que, se souber superar suas limitações e contar com um bom ajuste da contratação recorde da história do clube - Gylfi Sigurdsson - tem tudo pra brigar na parte de cima da tabela. 

Seja pela mudança de ambiente, seja pela vontade de mostrar aos seus críticos que eles estão errados, seja pela ambição de jogar a Copa do Mundo da Rússia em 2018, Rooney tem dado mostras de que sim, ainda pode jogar em alto nível. E, como não podia deixar de ser, após mais um gol em um de seus adversários preferidos - o City sofreu também de Rooney seus gols de número 50 e 150 na EPL. Agora o 200 também - o atacante mandou aquele velho tuíte provocador: "Sempre bom ver rostos familiares."

"Sempre bom ver rostos familiares" 

Seguimos te acompanhando, Wazza...Once a blue, always a red.




terça-feira, 21 de fevereiro de 2017

De quando os coronéis não querem largar o osso. Ou SOS futebol brasileiro.

No último domingo, dia 19.02, tivemos a realização da quinta rodada do Campeonato Paranaense de futebol e nela, um jogo histórico: o clássico Atletiba(Atlético PR x Coritiba) de número 370, pela primeira vez na história, não teria transmissão na TV, mas sim no Youtube. Os clubes, insatisfeitos com os valores oferecidos pela RPC(afiliada da Rede Globo no estado e detentora dos direitos de transmissão do campeonato) decidiram se unir, negociaram com o YouTube e decidiram abrir a transmissão na internet, via streaming, pra qualquer pessoa que quisesse assistir. A transmissão ocorreria pelos dois canais oficiais dos clubes no YouTube, contaria com narradores e comentaristas dos dois times, além das equipes atuantes no gramado, com as câmeras, repórteres de campo e todo o aparato necessário. Um marco, não é?!

Seria...se algo de muito estranho não tivesse acontecido. Na volta do seu aquecimento no gramado, o árbitro Paulo Roberto Alves Jr foi alertado pela supervisora de imprensa da Federação Paranaense de Futebol, Julia Abdul, que profissionais de imprensa não credenciados estariam no campo de jogo e que a partida não deveria ser iniciada enquanto essas pessoas não fossem retiradas. A questão é que ESSES PROFISSIONAIS SERIAM OS RESPONSÁVEIS PELA TRANSMISSÃO DO JOGO. A partir daí começou o imbróglio. Times que subiam e desciam do vestiários, presidentes dos clubes em campo conversando com a arbitragem e com o delegado da partida, diretores de marketing do Atlético-PR e até o próprio técnico Paulo Autuori se mobilizando pra que ninguém da imprensa deixasse seus lugares, narradores e repórteres que já estavam ao vivo sem entender nada e, principalmente, um público de mais de vinte mil pessoas nas arquibancadas que pagou ingresso tendo seu direito de assistir à partida desrespeitado. 

Presidentes dos clubes tentam, inutilmente, convencer o árbitro a iniciar a partida.

Depois de quase 40 minutos de incerteza, diante da irredutibilidade do árbitro, as equipes voltaram ao gramado, deram as mãos no círculo central, saudaram a torcida e voltaram definitivamente ao vestiário. Fim de jogo. Começo do problema. A federação se isentou, dizendo que a autonomia de parar a partida era do árbitro e que a presença de profissionais não credenciados feria o regulamento do campeonato(Aqui vale ressaltar que jogos menores do Paranaense de 2017 passaram pelo mesmo problema de pessoas não credenciadas no campo de jogo e as partidas não foram interrompidas). O árbitro, em sua súmula, pôs a culpa nas duas diretorias dos clubes que, segundo ele, impediram a retirada dos não credenciados de campo. Os clubes já se pronunciaram dizendo que não jogarão mais a partida(remarcada para o próximo dia 01/03, quarta-feira de cinzas), além de anunciarem que entrarão na justiça contra a Federação do estado. 

Uma imagem pra ficar na história: rivais unidos por um ideal maior.

A questão é clara. Todo esse texto pode ser resumido em algumas linhas: os clubes decidiram desafiar o poder vigente - CBF, Federações, Rede Globo e suas afiliadas - por se acharem prejudicados quanto ao valor oferecido por seus produtos(o jogo de futebol, a exibição de suas marcas, etc). Buscando o que é melhor para si, se uniram e adotaram uma tendência que já é realidade em outros mercados: a negociação individual de suas cotas de transmissão. Agora, resta saber quais serão as cenas dos próximos capítulos. O contra-golpe da CBF foi rápido: em congresso técnico para discutir a realização do Campeonato Brasileiro de 2018, a entidade anunciou que não mais aceitará estádios cujos campos sejam de grama sintética, pois 'prejudicam o nível técnico do espetáculo'. Adivinha quem tem grama sintética - inclusive aprovada pela FIFA - em seu estádio? O Atlético-PR.

Por fim, a nós, torcedores, amantes do esporte, que ansiamos por um futebol brasileiro mais profissional, que valorize o fortalecimento dos times, sua autonomia e especialmente que priorize o torcedor, resta lutar contra essas estruturas arcaicas que nos impedem de evoluir. Apoiar iniciativas como essa de Atlético-PR e Coritiba é fundamental. Chega de mandonismos. O futebol brasileiro não tem dono. Enquanto não superarmos esse modelo nefasto de administração do futebol local no conluio CBF/Federações/Rede Globo, todo dia será um novo 7x1.