quinta-feira, 20 de outubro de 2016

Dirigentes ou políticos?

      Deixo bem claro que sou suspeito para falar do tema, como apaixonado pelo futebol que sou apesar dos seus pesares, afirmo categoricamente que o futebol jogado e administrado no nosso país muitas vezes é um límpido espelho da nossa sociedade. Tentarei exemplificar e fazer um paralelo, com o intuito comprovar que por várias vezes que o interesse pelo próprio umbigo está acima do interesse maior, e quisera eu que isso fosse o inverso em algumas ocasiões e outras esferas do nosso país (quanta utopia).

     Você que acompanha avidamente essa reta final de Brasileirão, onde Flamengo e Palmeiras disputam o título palmo a palmo, acompanhados de perto por Atlético Mineiro e Santos ou até mesmo quem só vê e ouve por cima, deve ter reparado no noticiário ultimamente a polêmica instaurada em torno da peleja da última quinta no magnífico clássico carioca Fla – Flu. Um gol marcado pelo Flu gerou uma paralisação de quase 15 minutos, enquanto o trio de arbitragem discutia se anulava ou não o tento, tudo acompanhado por policiais, comissões técnicas, repórteres e gente que não deveria estar ali. Muita conversa e reclamações depois o gol foi anulado para a ira dos tricolores, apesar do impedimento ter havido de fato, o que está causando todo o imbróglio que foi parar no STJD, e alvo de reclamação do próprio presidente do famigerado tribunal, é uma suposta interferência externa ao trio de arbitragem.

     Naquele mesmo dia, Palmeiras e Cruzeiro empataram sem gols e com a vitória rubro negra a distância se encurtou mais ainda. A polêmica no Rio fez com que os ânimos dos dirigentes se exaltassem e rapidamente farpas começaram a ser trocadas, via tv e mídias sociais, repletas de ironia as críticas faziam ameaças veladas e levantaram suspeitas quanto à idoneidade do campeonato. E para esquentar ainda mais a cabeça de torcedores e dirigentes, no jogo do último domingo entre Palmeiras e Figueirense, mais reclamações de parte a parte sobre pênaltis polêmicos, tendo os alviverdes vencido o jogo, e o jogo se torna alvo do STJD novamente através do Figueirense. Os presidentes de ambas as instituições são conhecidos pelo bom trabalho que vem fazendo nos seus clubes, de maneira até exagerada por alguns setores da mídia são taxados como o supra-sumo da administração moderna e isenta de erros. Mas aí amigo, ante tudo o que eles falam ou deixam de falar frente às câmeras, existe algo que é igual no Palmeiras, no Flamengo, e com todo o respeito, no Íbis: a paixão; e tomados por este nobre sentimento, eles fizeram igual ao torcedor mais simples: defenderam com unhas e dentes apenas o lado que os interessa.

                                          Presidentes agem como torcedores e incendeiam o campeonato

     Digo isto, pois como autoridades maiores de clubes gigantes do nosso futebol, eles deveriam ter uma postura completamente profissional, e dado o cargo que ocupam tinham que se preocupar com os problemas estruturais do nosso futebol, como profissionalização da arbitragem, trazer o poder de organizar campeonatos mais fortes e rentáveis para as mãos dos clubes, quebrar as hegemonias dos direitos de transmissão, mas ao invés disso preferem defender o próprio umbigo. Agora pare e pense um pouco, imagine uma disputa eleitoral de segundo turno, repare nas ações dos candidatos que muitas vezes se preocupam somente em agredir e denegrir o adversário, isso soa familiar? É exatamente da mesma maneira que os senhores Paulo Nobre e Bandeira de Mello agem agora, e vão agir até a última rodada. Preocupados única e estritamente com suas próprias agremiações, pouco estão se lixando para a melhoria da arbitragem, para o debate da necessidade ou não de incorporar o auxílio da tecnologia ao esporte bretão (auxílio este já presente em algumas partes do mundo e em outros esportes de alto nível, tais como basquete, futebol americano e vôlei). É estarrecedor constatar isso, porém mais um ano está acabando e nenhum fato novo surge para acalentar o sofrido torcedor que só quer ver uma disputa mais limpa, menos confusa e um time mais estruturado, seja lá sob a batuta de quem for.


Denis Mourão - Administrador, corredor e Vascaíno sim senhor /+/

terça-feira, 18 de outubro de 2016

O adeus a um mito

Essa semana, a crônica esportiva cearense, torcedores, clubes locais, telespectadores da TV e do rádio, amanheceram de luto. De supetão, pela madrugada, após um mal súbito seguido de um infarto, partiu Carlos Frederico Costa Carneiro, nosso querido Carlos Fred. Com apenas 65 anos de idade, deixa órfã uma legião de fãs que o acompanhavam diariamente na Tribuna Band News FM.

O moço de Antônio Bezerra iniciou sua extensa carreira jornalística em 1969, na Rádio Dragão do Mar, passando posteriormente por outras inúmeras emissoras como a Rádio Uirapuru, Rádio Cidade, Ceará Rádio Clube e Rádio Verdes Mares. A primeira lembrança que tenho do Fred é a de suas participações na TV Diário, especialmente no programa Grande Jogada, onde dividia a mesa com outras grandes figuras do jornalismo esportivo local tais como Tom Barros, Sebastião Belmino e PC Norões. O ambiente descontraído do programa propiciava boas discussões e risadas, sem perder o profissionalismo. Fred comentava, na maior parte das vezes, as notícias e matérias relacionadas ao seu time do coração, Fortaleza Esporte Clube, o que não o impedia de interagir sobre qualquer outro assunto que fosse levantado no programa, mesmo quando se tratava de times 'rivais'. Um profissional de mão(e cabeça, idéias e gogó - pois também era narrador) cheia.

Fred na bancada da 'Grande Jogada'

Os que tiveram o privilégio e prazer de trabalhar com Fred destacam sua memória aguçada. Facilmente lembrava-se de fatos, times e escalações de décadas passadas. A espontaneidade com que comentava, deixava transparecer o prazer com que trabalhava, além da inteligência natural e a percepção clara que passava aos seus ouvintes de se estar escutando alguém que sabe do que está falando. Fred participou ainda da cobertura de quatro Copas do Mundo de futebol (1986/1990/1994/1998), e nesse ano de 2016 havia completado incríveis 45 anos de carreira. 

Seu último trabalho foi compor a equipe esportiva da Tribuna Band News FM junto dos não menos brilhantes Jussie Cunha e Caio Costa. O programa "Tribuna Band News Esporte" logo se popularizou, vide a interatividade que o mesmo promove com os ouvintes através do canal do Whatsapp, além da liderança carismática de Jussie, o que dá um ar de informalidade e um toque humorístico ao jornal. Titular absoluto na locução das transmissões de jogos dos grandes locais, foi na Tribuna que Fred recebeu os apelidos que o popularizaram nos últimos tempos: 'Bom Velhinho' e 'Mito'. Esse último foi inclusive adotado pelo público e pela própria emissora, dando origem a inúmeras montagens engraçadas e de muito bom gosto, o que serviu ainda mais pra que Fred caísse no gosto da galera.





Fred vai deixar saudade. Partiu sem ter a oportunidade de ver seu amado tricolor longe do calvário que o acompanha desde 2009, a terceira divisão. E, mesmo sendo declaradamente tricolor, exercia sua profissão com extremo profissionalismo, sendo chamado pela torcida do Ceará de o "mais alvinegro entre os tricolores". Nós, que o acompanhávamos diariamente, sentiremos saudade. Afinal, infelizmente, alguns mitos também morrem. Vai com Deus Fred e até a próxima! 

Pra matar a saudade e guardar na memória, a narração do gol do acesso do Fortaleza E.C. à série A em 2004. 



   

segunda-feira, 10 de outubro de 2016

Sobre calvários e eliminações

A eliminação de ontem diante de 60 mil incrédulos no Castelão, e outros tantos em suas casas, bares e restaurantes ainda está viva e tão cedo sumirá da mente do torcedor leonino. Sem contar a munição extra para os alvinegros zoarem seus rivais por mais um tempo, fato é que ano após ano, o torcedor tricolor leva um duríssimo golpe ao fim do ano, e para aumentar o requinte da crueldade, é a quarta vez consecutiva que o filme de terror se repete dentro de casa.

De antemão, como já citei antes no blog não sou torcedor de nenhum dos dois times da capital e não quero tripudiar de ninguém, ainda mais porque meu querido Vasco não me dá motivos pra tal, freqüentando a série B novamente este ano e capengando na reta final pra variar...enfim o que pretendo ao longo deste rápido texto é fazer um paralelo de ambas as situações e levantar uma questão um tanto quanto polêmica, o regulamento da série C. Comecei a acompanhar o Vasco ainda garoto, e peguei o time no auge do esquadrão de 97-2000 onde o cruzmaltino ganhou praticamente tudo que disputou e fez a alegria de milhões de torcedores, Edmundo, Odvan, Mauro Galvão, Juninho, Romário ( só lembranças nada mais). Ao decorrer desta década administrações pífias conduziram o time ao primeiro rebaixamento, quem não lembra da marcante imagem de um torcedor ameaçando pular da marquise de São Januário? Caiu uma, duas e hoje amarga a terceira vez na segundona e a sensação entre uma parcela considerável da torcida é um misto de conformismo e indiferença com a situação, devido a uma série de fatores que não cabe aqui mencionar.

                                   Calma aí amigão, o mundo não acabou.

Voltando para terras alencarinas, o tricolor de aço já conseguiu o acesso a primeira divisão num passado recente, inclusive com campanha marcante como em 2002 chegando a bater o São Paulo que viria a ser campeão mundial em dezembro daquele ano, tendo outros tantos resultados expressivos, Castelão constantemente lotado e assim como o Vasco degringolou com o passar da década e estacionou na terceira como carro atolado em lama. Hoje mesmo falando com alguns torcedores, e vendo grupos e relatos nas redes sociais também vejo o sentimento confuso de conformismo e indiferença, um pouco de raiva talvez de alguns lembrando a arbitragem do primeiro jogo que anulou um gol legítimo no jogo em Caxias.

O que está em jogo aqui é o sentimento do torcedor, jogadores vêm e vão assim como dirigentes, mas o apaixonado é quem amarga a situação na pele, é ele quem promete não ir mais aos jogos no calor da raiva, ele quem pensa em cancelar o sócio torcedor, que não faz questão de vestir aquela camisa preferida da coleção. E isso amigo é um tanto quanto perigoso, apesar de existirem algumas pesquisas que mencionam “ganhar e perder” torcedores, particularmente não acredito muito neste termo mas é inegável que o clima fúnebre de alguns cause essa indiferença e conformismo da qual falei. Dando uma pincelada no regulamento acho um tanto quanto covarde, começa com pontos corridos, vira mata – mata com uma vantagem um tanto quanto enganoisa, que é decidir a volta em seus domínios, e valendo ainda o famoso gol fora de casa. Ora, acaba sendo uma fusão de três tipos de disputa numa só e que podem causar danos irreparáveis como já aconteceu ao Fortaleza, ano de melhor campanha e ataque e sucumbiu no Castelão de maneira cruel, tenho lá minhas dúvidas se houvessem mais times do eixo sulista envolvidos se não já tinham repensado uma fórmula mais simples, ou pontos corridos diretos, ou um mata – mata sem gols fora de casa, onde o dono da melhor campanha poderia jogar por dois resultados iguais.

Ficam aqui duas vertentes, que apesar de serem simples pedidos de um reles torcedor não deixam de ser uma forma de expressão, que acredito serem semelhantes à de milhares por aí. Não abandone seu time por mais tenebrosa que seja sua situação, mais cedo ou mais tarde você tá no estádio de novo, sofrendo e torcendo como se o ano passado não tivesse existido, e debata e discuta meios de melhorar seu time, seja apoiando, seja aderindo ao plano de sócio, botando pilha nas redes sociais e cobrando sempre da melhor forma, sem violência e com diálogo sempre.
                          Que essas cenas de festa e alegria sempre se repitam em qualquer divisão.

Saudações ao futebol!!!

Diga não a gourmetização!

Denis Mourão, administrador, torcedor, vascaíno e corredor /+/

domingo, 9 de outubro de 2016

Nervosismo à flor da pele!

     Hoje o Tricolor de Aço do Pici buscará seu maior objetivo do ano, frente à equipe do Juventude: o acesso para a Série B do Campeonato Brasileiro. Pode esperar, será um jogo de acabar com o juízo de qualquer aficionado. O Leão é craque em fazer isso com a torcida. Mas no final o sabor da vitória tira todo o gosto ruim da angústia do tempo regulamentar. 



     Aqui vai um relato de um desses jogos que tirar o fôlego e a paciência da torcida, mas no final deu tudo certo.

Castelão, dia 03/03/2015: Fortaleza 2 x 0 River-Pi -  Copa do Nordeste.

     Já passavam dos 40 minutos do segundo tempo. Apesar das diversas chances, o zero a zero já parecia certo.

     A impaciência da torcida aumentava, assim como o número de cigarros que o torcedor que estava ao meu lado fumava. Um cigarro atrás do outro, ele fumava sem parar.

     Uma parte da torcida começava a ir embora. Mas a grande maioria, entre vaias e reclamações, permanecia no Castelão. Afinal, como diz um dos célebres ditados da bola: “o jogo só acaba quando o juiz apita”.

    E ele apitou. Mas para marcar uma falta na intermediária para o Fortaleza.

    O volante Corrêa, capitão da equipe tricolor, demorou alguns segundos arrumando os meiões antes de cobrar a falta. Será que tentava lembrar alguma jogada ensaiada? Acredito que não. Até porque aquela altura da partida não existia mais nada para orquestrar. Enquanto Corrêa realiza seu íntimo ritual, o torcedor ao meu lado acende outro cigarro. Pelo nervosismo do momento, até a vontade de voltar a fumar bateu em mim. Mas aguentei firme e as unhas foram minhas vítimas. 

     O árbitro autoriza a cobrança. Após a curta conversa com a bola e os meiões, o capitão alça a bola na área. O bate e rebate na grande área dura intermináveis dois segundos. A bola sobra limpa para Daniel Sobralense abrir o placar para o Leão do Pici.

     A torcida tricolor troca as reclamações pelo grito de gol guardado há 90 minutos.


     Depois da euforia, olho para o torcedor desconhecido ao meu lado. Não portava sorriso no rosto, mas feição de alívio depois do gol. Após uma bela tragada em seu cigarro, ele me diz de uma só vez: “Meu Deus, ainda vou morrer disso”. 

     Espero que, depois de uma ano, esse torcedor desconhecido não tenha "morrido disso" e esteja vivinho para ver o acesso tão sonhado.




sábado, 1 de outubro de 2016

O poder da memória



Era uma noite de semana, sei disso porque saímos apressados de casa. Chegamos ao melhor estádio do mundo, o meu PV, eu e meu pai. Devia ter uns 9 anos, ainda não pagava para ver o Ceará. Meu pai me leva à entrada para crianças e diz para ficar esperando ele do lado de três homens, eles estavam de farda. Fique do lado deles até eu chegar, disse meu pai com toda a seriedade possível, mesmo não sendo a primeira vez que ia ao estádio. Entrei, esperei e pouco depois o vi entrando. Corria para acompanhar seu passo. Pai, pipoca! Paramos. Outro vendedor atento aproveita e oferece uma camisa do vozão para o filhinho. Meu pai compra e manda eu colocar. Disse que precisávamos ganhar e estava mais que na hora de ter minha camisa. De repente duas pessoas chegam perto do meu pai. Eu já tinha visto o que carregava o microfone mas nunca tinha visto o que tinha o aparelho preto no ombro. Eles olham pra mim, me filmam colocando a blusa e perguntam o placar do jogo. 2x0 pro Ceará digo de pronto. Gols de Maradona e Tiaguinho. Meu pai ri, agradece, me puxa e é isso. Só lembro até ai. Não me lembro de nada do jogo ou do adversário, placar ou artilheiros.
Essa é uma das minhas memórias mais antigas envolvendo estádio e o valor dessa nostalgia emotiva que ganhei do meu pai soube que tinha valor mais que sentimental por causa de um senhor de cabelo branco e voz rouca. O fundador do meu canal esportivo preferido. A ESPN Brasil do José Trajano. Para mim, sua saida, é motivo o bastante para um pouco de chateação. Recebi a notícia sem acreditar. Ele trouxe para a casa tantos jornalistas que hoje admiro. Como queria entender mais de futebol aos sete anos e ver Chico Buarque e Tostão (!!!) juntos debatendo a copa de 98. Jornalistas, esses, que me faziam correr da parada do ônibus para escutá-los. Adorava ver o Mauro Cezar Pereira e O PVC cada um com um argumento melhor que o outro a debater e o Trajano, junto com o Juca Kfouri, a contemporizar e mostrar que tinha mais coisa naquele problema. Falas de quem conhecia o meandro do futebol e do jornalismo brasileiros.
"O melhor mau humor da TV brasileira" disse Washington Olivetto sobre ele. Devido sua posição política convicta e escancarada junto a esse mau humor marcante, sua saída levantou uma certa discussão até fora do meio esportivo e especulações sobre o motivo surgiram. Obviamente, não disponho de informação privilegiada sobre o assunto. O que tenho certeza é que a ESPN Brasil não pode desapontar o Trajano. Em um futebol dominado de forma monopólica pela Rede Globo, a ESPN do Trajano sempre foi o epicentro de crítica ferrenha aos erros dos cartolas, sejam dos clubes ou da CBF, algo que a outra emissora sempre tratou com panos quentes enquanto era conveniente.
Infelizmente, acredito que no momento de busca por likes e viralizações do jornalismo aquele vovô mau-humorado e cheio de histórias nostálgicas sobre o América, a Tijuca e o Maracanã não se encaixava. Simplesmente por ser um vovô nostálgico. Na verdade, isso não importa tanto, já que sua carreira afetou toda uma geração de apaixonados por futebol e esportes que vêem a diferença da ESPN do Trajano em relação à concorrência, além dos jornalistas hoje espalhados por ai. Espero ansioso o próximo projeto. Acompanharei e aprenderei um pouco mais. Pois o vovô mau-humorado me ensinou que a primeira vez que usei uma camisa do Ceará no estádio não é apenas uma memória perdida na cabeça e sim algo de valor que compartilho com milhões de apaixonados por futebol em todo o planeta.