quinta-feira, 5 de outubro de 2017

A Supertição Tricolor



       Antes de mais nada, devo dizer que comecei a escrever esse texto no dia 22 de setembro de 2017, dois dias antes do primeiro jogo Fortaleza e Tupi-MG válido pela Terceira Divisão do Campeonato Brasileiro de Futebol. No final dessa crônica, você entenderá o porquê dessa revelação.

       Talvez, o Fortaleza seja o clube mais envolvido em superstições no futebol profissional brasileiro nos últimos anos. Muito devido às eliminações nas quartas-de-final da Série C do Campeonato Brasileiro de Futebol. O tricolor cearense figura nesta série desde 2010, tendo seu acesso batido na trave pelos quatro vezes, no famigerado mata-mata. 

       Para quem não conhece como se dá o sistema classificatório da Série C, aí vai uma explicação bem rápida. Os clubes são divididos, de acordo com sua região de origem, em dois grupos com 10 times. Os quatro primeiros colocados do Grupo A (formado por equipes das regiões Sul e Sudeste) disputam por quatro vagas contra os quatro primeiros do Grupo B (formado por equipes das regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste) num formato eliminatório, onde os dois primeiros de cada grupo tem a vantagem de pegar os piores colocados do outro grupo e fazer a partida decisiva em casa. Assim, temos a classificação decidida numa quarta-de-final, onde os quatro times que conseguirem vencer o primeiro “mata-mata” tem seu acesso garantido. 

       Pois bem, o Fortaleza conseguiu a classificação para as quartas-de-final dos anos de 2012, 2014, 2015 e 2016 sempre na primeira posição do Grupo B. Teoricamente, enfrentaria o mais fraco dos classificados da outra chave. E em todos os “mata-mata” o Tricolor de Aço foi eliminado em casa e sempre com o estádio abarrotado com sua torcida tão leal. O favoritismo de decidir em casa, contra o quarto colocado do Grupo A nunca adiantou no caso tricolor. E assim, só nos resta a seguinte dúvida: o que falta para o Tricolor de Aço conseguir o acesso?”
Toinha pagando promessa após a classificação contra o Tupi em Juiz de Fora. Fonte: Esporte Interativo.

       Mesmo que existam explicações plausíveis para o insucesso tricolor, muitos torcedores apelam para a superstição. É a roupa que não deu sorte, a promessa que não conseguiu cumprir, o amigo azarado que vai para o estádio ou até mesmo o elenco de jogadores que é pé frio. Esta última, foi a razão dada por um cronista esportivo local. Vai entender?   

     Há, também, aqueles que apelam para teorias da conspiração. Ano passado, após a última desclassificação frente ao Juventude, enquanto estava na fila do caixa eletrônico, ouvi a conversa de dois amigos sobre a eliminação tricolor, quando um deles falou: “isso é culpa do canal que tem os direitos de transmissão da Série C, eles fizeram um contrato com o Fortaleza de 10 anos.   O Fortaleza tem que passar 10 anos na terceira divisão”.

       Felizmente, a teoria desse camarada estava errada. Sim, o Fortaleza subiu para a Série B e não precisou dos 10 anos de contrato com o canal de televisão. Muitos foram para o estádio com suas camisas da sorte que sempre usam em jogos decisivos e com os mesmos amigos “pés frios” que sempre estão juntos na arquibancada. Ah, e no time desse ano ainda têm alguns jogadores remanescentes das eliminações anteriores. Superstição? Quanta besteira!

       Então por que deixei para postar esse texto apenas 13 dias depois da nossa classificação? A superstição me impediu. Enquanto escrevia, lembrei que ano passado, um dia antes do “mata-mata”, postei um texto sobre este jogo decisivo. Como torcedor, preferi esperar e não postar antes do jogo desta vez.  Vai que foi justamente o meu texto que não deu sorte?  

       Não adianta, por mais que estejamos num mundo cada vez mais racional e científico, no futebol sempre teremos espaço para os rituais, o sagrado e o azar.