segunda-feira, 12 de dezembro de 2016

E se...

Recentemente Lionel Messi teve seu nome envolvido em polêmicas extra campo, problemas com o Fisco espanhol são noticiados com frequência nas mídias catalã e madrilenha e causam aborrecimento ao jogador. Há quem diga que o Barcelona devia proteger seu rei com mais veemência, porém há o lado que defende que do campo pra fora o próprio atleta que cuide dos seus problemas e entraves, mas deixemos essa questão de lado por enquanto e vamos nos ater a uma suposição (ou devaneio) como queiram. Foi ventilado na imprensa que Messi avisou ao Barcelona no começo da temporada em meados de julho, que não renovaria seu vínculo com o clube catalão e causou um alvoroço nos jornais espanhóis. De bate pronto o periódico local Sport desmentiu a história, tudo não passa de boato e La Pulga irá estender seu contrato com o Barcelona novamente, com um pomposo aumento e outras tantas regalias que ele possui junto à direção do clube e o status de lenda viva que possui junto aos torcedores azuis – grená. Mas se voltarmos alguns anos no almanaque dos gênios, já vimos um filme parecido e que pode ter o mesmo desenrolar... o ano de 2006 mostrava um Ronaldinho Gaúcho no auge, o gênio cabeludo desfilava seus gols e malabarismos no Camp Nou e pela seleção brasileira, juras de amor eterno, promessas de encerrar a carreira por lá e passado um curto período após 2006 R10 deixou de ser unanimidade, seja por sua vida particular (bem diferente da que leva Messi), seja por seu desempenho em campo, talvez desmotivado naturalmente por já ter tido conquistado tudo e mais um pouco pelo Barça, Ronaldinho bateu asas rumo a Itália e deixou o trono catalão para Messi.


                                             Não é tão absurdo quanto parece

O cenário é um pouco diferente, hoje Messi tem um time espetacular ao seu lado e mesmo com outros ícones de uma geração já não fazendo mais parte do elenco, como Puyol, Xavi e Iniesta se aproximando do fim da carreira, Messi faz parte de um ataque estupidamente poderoso ao lado de Luis Suarez e Neymar. O trio já deixou suas marcas no campeonato local, na UCL e protagonizou vários recordes, Messi tem total respeito no elenco apesar de sua postura calado, alheio a entrevistas e pouco ativo nas redes sociais. Lionel cabe hoje em qualquer clube do mundo, times do primeiro escalão já demonstraram poder de fogo para contratar quem quiserem, PSG, Bayern de Munique, Chelsea, Manchester United, Manchester City e seu arquiinimigo Real Madrid têm vários artifícios para seduzir o astro argentino, caso ele sinalize que sairá de Barcelona em busca de mais conquistas, de novos desafios e recordes pessoais.

Seria sensacional ver Lionel em outras ligas, comandando outros esquadrões e marcando outra era no futebol, o Real Madrid já protagonizou duas contratações bombásticas de ex – catalães, Luis Figo pulou o muro em 2000 por 65 milhões de euros, Ronaldo Fenômeno em 2002 veio da Inter de Milão pela bagatela de 32 milhões de euros... o futebol é apaixonante dentre outras coisas, pelos novos ídolos, pela dinâmica mercadológica que se impôs nos últimos anos, e claro pelas surpresas que são reveladas a cada janela de transações que se aproxima. Fica a imaginação livre para você supor como seria Messi com outra camisa, seria ele capaz de repetir seus feitos de tempos de Barcelona? Consegue ver ele e CR7 fazendo tabelas mirabolantes e comemorando gols juntos? Será que os deuses da bola vão aprontar essa conosco ou tudo não passa de utopia e manchetes pra vender jornal?


                                                                  #descubra

terça-feira, 29 de novembro de 2016

Quando o dia não termina.


6:48 da manhã. Não sei porque, hoje não precisei de despertador pra acordar. Cumpro o ritual cotidiano: agarro o celular que está a carregar na cabeceira pra checar o WhatsApp. 78 mensagens de 6 conversas. Algo de estranho aconteceu. Não é normal tamanha quantidade de mensagens enviadas de madrugada. Letárgico, começo a abrir os chats. A vista ainda embaçada apenas me permite vislumbrar algumas palavras soltas: avião, Chapecoense, desastre, 70 mortos....aos poucos, conforme o sono se vai e a incredulidade se instala, começo a entender o que aconteceu. Não teve mais ritual cotidiano, não teve café da manhã, não teve nada. Sentado fiquei, até perceber que se não saísse rápido, chegaria atrasado no trabalho. Nesse meio tempo, frenéticas vezes atualizava o facebook, a Globo.com, lia as mensagens que chegavam no WhatsApp, na vã esperança de que tudo fosse um engano, que logo o equívoco se esclareceria. Não foi. Confirmou-se a maior tragédia esportiva da história do país.

Ao longo do dia as informações iam chegando, desencontradas e trágicas. O time de ascensão meteórica, o xodó de todo torcedor brasileiro, estava dizimado. O jogo que nos preparávamos pra acompanhar e torcer na quarta-feira, eu e os amigos, não mais aconteceria. Foram-se multiplicando as homenagens ao redor do mundo. Craques de renome mundial como Beckham, Rooney, Casillas, Neymar, DeGea, Ronaldinho Gaúcho, Pelé, Maradona, Raul, Ballack, Schweinsteiger, dentre vários outros, postaram suas condolências. Nas redes sociais, a maioria das equipes brasileiras trocou seus escudos por brasões enlutados da Chape. Treinos de Real Madrid, Barcelona, além do jogo do Liverpool contra o Leeds pela Copa da Liga tiveram minutos de silêncio. A torcida do Copenhagen FC levou faixas de apoio no jogo de seu time hoje à tarde. O mundo esportivo, especialmente do futebol, se vestiu de luto.  

O time que conquistou a simpatia dos torcedores de todos os clubes

Ao mesmo tempo, gestos concretos de solidariedade começaram a surgir de todos os lugares: os times brasileiros comprometeram-se a emprestar jogadores a custo zero à Chape, assim como propuseram a imunidade do clube ao rebaixamento na série A nacional por três anos. O Libertad – PAR disponibilizou seu elenco, caso o time catarinense decida entrar em campo para jogar a final da Copa Sul-Americana, além da rodada de encerramento do Brasileirão. Mas talvez o gesto mais bonito tenha vindo do adversário que o time enfrentaria na final de amanhã. O Atlético Nacional de Medellín enviou solicitação à Conmebol - que, como em tudo que se envolve, ameaça atrapalhar - pedindo a declaração da Chapecoense como campeã da Copa Sul-Americana de 2016. Todos querem demonstrar seu carinho ao time catarinense.

Mas, e agora? Por enquanto, todos os jogos – a final da Copa, assim como os do Brasileirão e Copa do Brasil – foram adiados. A cidade que abraçou o time chora seus mortos. O mais importante nesse momento é cuidar dos sobreviventes, garantindo-lhes o pronto restabelecimento, e providenciar para que os familiares e a cidade tenham a oportunidade de dar adeus aqueles que tantas alegrias trouxeram nos últimos anos ao povo de Chapecó. São muitas histórias tristes, muitos corações arrebentados pela dor da partida que necessitarão de tempo para serem curados. Como estará a mulher do atacante Thiaguinho, que recentemente descobriu que seria pai pela primeira vez? O filho do técnico Caio Jr, que não embarcou com a equipe por ter esquecido o passaporte? A família do goleiro(e herói) Danilo, após saber que, mesmo tendo sido resgatado com vida, não sobreviveu aos ferimentos?   

O herói da classificação na semi-final deixa um filho de 2 anos

Diante de tanta dor, em entrevista ao Bom Dia Brasil, um emocionado presidente do Conselho Deliberativo, Plínio David de Nes Filho, disse que o sonho acabou. Foram as mesmas palavras utilizadas pelo fundador do time, Alvadir Pelisser, de 80 anos e que se recupera de um AVC sofrido em janeiro último. Mas eu, assim como todos os amantes do futebol, dizemos que não. O sonho foi apenas posto em espera. A Chape é gigante. Com a ajuda de sua magnífica torcida, dos clubes do Brasil e do exterior e de todo o mundo do futebol, temos certeza que o Índio Guerreiro de Condá dará a volta por cima. Exemplos não faltam, que o digam Brasil de Pelotas e Manchester United (este último também acometido por uma tragédia aérea em Munique, na Alemanha, no ano de 1958, que esfacelou uma das gerações mais brilhantes que o time já teve e que, dez anos depois, após intenso trabalho de recuperação, foi campeão da Champions League com o mesmo técnico da época do acidente, Sir Matt Busby, além do destaque e maior artilheiro da história do time até hoje, Sir Bobby Charlton, que também estava no avião acidentado).

É hora de juntar os cacos. Que a memória dos que hoje perderam a vida enquanto lutavam pela realização de seus sonhos e os sonhos de todo um povo, seja inspiração e exemplo para os que aqui ficaram. Que não esmoreçam diante da gigantesca batalha que se avizinha e que tenham forças para manter e elevar a Chape aonde ela merece estar.

O vestiário que dias antes presenciava uma festa, agora silencia



Como católico, rezo ao bom Deus para que acolha às almas dos falecidos, dando o conforto e consolo aos seus familiares.  



A equipe do blog deseja aos sobreviventes uma rápida e completa recuperação, assim como envia aos familiares e amigos de todos os envolvidos – jogadores, tripulantes e profissionais da imprensa – nossas mais sinceras e profundas condolências. Deseja ainda, por mais clichê que pareça, que cada um de nós saiba fazer do hoje o dia mais especial de nossas vidas. Que amemos e abracemos nossos pais, que digamos a nossos cônjuges o quanto são importantes para nós, que façamos o máximo bem possível enquanto podemos, tendo sempre em nossa mente a consciência da finitude do que chamamos vida.  


#forçaChape    


segunda-feira, 28 de novembro de 2016

A história não cabe no pôster

Caso você acompanhe futebol minimamente, você sabe que o Palmeiras foi campeão brasileiro em 2016. Dentre muitas histórias que serão escritas para relatar o feito uma me chama mais a atenção. Uma história sobre aproveitar as oportunidades da vida. O conhecimento popular é povoado de frases prontas para este tipo de situação. Pessoas passam uma vida buscando uma oportunidade. Uma chance de conseguir o que desejam. Ontem vimos isso claramente.


Jaílson Marcelino dos Santos, mais um brasileiro que sonhou ganhar a vida com o amor pelo futebol. Mais um brasileiro com dificuldades financeiras e que se valeu de toda a ajuda possível da família para seguir o sonho. Em 2003, aos 22 anos, foi contratado pelo Campinense/PB. Conseguiu o sonho, ou quase dado a realidade do futebol brasileiro. Durante 11 anos de carreira passou por São José, Ituano, Guaratinguetá, Juventude, Oeste e Ceará. Até que em 2014 chegou ao Palmeiras. Onze anos trabalhando em clubes de pequena e média expressão. Onze anos vivendo o sonho de infância. Para ser terceiro goleiro aos 34 anos.
Tinha à sua frente uma promessa da base e um goleiro de Seleção, Fernando Prass. Eis que em um infortúnio pela seleção, Prass se contunde. Jogo seguinte, o reserva Vágner, joga mal em um clássico. A bronca de substituir um ídolo do clube então cai para o desconhecido Jaílson. Contudo, além de escrever sua história, Jaílson lê o mundo diferente da maioria. Onde eu escrevo bronca ele lê oportunidade. Tratou-a como a bola que tanto conhecia e não ia deixá-la passar. Curiosamente, no time que tem o orgulho escrito em verde, a esperança na carreira foi renovada
Jogou 18 partidas. Sofreu 11 gols. Média de 0,61 gols por partida. Invicto. Campeão. Por um time gigante que por 22 anos não conquistava o Brasileirão. Ao sair do campo tinha todo o direito de expor o seu valor construído por muito trabalho. Ao invés, agradeceu a avó que costurava suas calças surradas de goleiro. Agora que mostrou seu valor a reserva do Palmeiras parece pequena para o antes desconhecido.
Daqui a muito tempo o registro histórico ainda terá o seu nome entre os campeões de 2016. Ele estará no poster de alguma criança palmeirense, para sempre. Mas o poster não conta essa história. O pôster mostra as conquistas, apenas as conquistas. Deixa passar o trabalho por trás do resultado e principalmente a história de alguém que não deixou passar a oportunidade da vida. Que outras crianças possam olhar para esse exemplo e saibam que devem estar sempre preparadas. A oportunidade sempre vêm.


segunda-feira, 21 de novembro de 2016

A censura bate na trave

Nada como um belo domingo na capital paulista, palmeirenses em clima de título, famílias indo pro estádio, casais, idosos, crianças, tudo na mais perfeita harmonia. Não fosse mais uma medida completamente descabida e sem o mínimo de bom senso, que deixou o mundo da arquibancada abismado novamente, um pai que levou sua pequena palmeirense para assistir ao jogo foi barrado na entrada pela PM: a menina estava com o rosto pintado e foi impedida de entrar, pois tal pintura dificultaria sua identificação. O pai contornou a situação, lavou o rosto dela e entraram para ver a partida que poderia dar o título ao alviverde.
Criança censurada na porta do Allianz Parque

Sim, foi exatamente isso que você leu, uma menina de sete anos foi impedida de entrar no estádio sob o argumento de que isso dificultaria sua identificação. Claro que normas e orientações existem para serem cumpridas, mas este fato beira o ridículo e causa completa estranheza ao torcedor de bem. Não vimos tal rigor para que sejam identificados certos elementos que frequentam estádios por todo o país, infiltrados em torcidas organizadas, que promovem verdadeiras selvagerias e atos ilícitos nas arquibancadas, coagem torcedores, usam drogas, utilizam artefatos altamente nocivos, como bombas caseiras, armas brancas, e isso não é exclusividade do time A, B ou C. Já que não se acha uma solução, e os sujeitos responsáveis pela organização e segurança dos jogos claramente não entendem o ambiente que cerca uma partida, seja ela qual importância tiver, valendo ou não um título nacional, de um time gigante, um clássico ou o que seja, as medidas punem os justos, aquele torcedor que chega mais cedo ao estádio pra tomar uma cerveja, comer um churrasco e jogar conversa fora não pode mais fazer isso. Novamente o Allianz Parque é exemplo aqui, a PM resolveu isolar a área que cerca o estádio em dias de jogo do Palmeiras, só transitam pessoas com ingresso e moradores, se eu quiser ir antes do jogo para curtir o clima e ir embora não posso, tudo em nome da “segurança da sociedade”, se eu pretendo ir fantasiado, como costumávamos ver diversas vezes, ou com uma simples pintura no caso dessa garotinha e seu pai, também é proibido sob a batuta da “manutenção da ordem”.


O que mais faltam inventar para coibir a festa nas arquibancadas? É inadmissível que essas ações não visem punir os verdadeiros baderneiros e pilantras, que usam o estádio como palco para exibicionismos de covardia e violência, e o torcedor comum, que não tem condições de pagar planos de sócio para ele ou sua família, é afastado cada vez mais dos jogos preferindo o sossego de casa ou de um restaurante próximo a sua residência. Imagine você, que hoje ou daqui a alguns anos pretende levar seu filho ou filha para um jogo, resolve sair de casa animado com o dia que pode ser inesquecível para sua família, o começo de uma nova paixão pelo clube de coração, e se depara com uma situação absurda desta? Ser impedido de entrar porquê está usando um adereço do time, ou está caracterizado como o mascote, fantasiado ou algo que faça menção a festa. Fica aqui um sentimento não de raiva, mas de completa inércia e impotência sobre estas censuras ao direito de ir e vir que atingem o torcedor constantemente, e pasmem, medidas estas tomadas pelos manda chuvas do mundo da bola.

Essa é a cara deste que vos escreve

Denis Mourão, torcedor estupefado com as barbaridades que lê e vê, e o Vasco ainda por cima não colabora neste fim de ano. Até breve caro leitor. /+/

sexta-feira, 18 de novembro de 2016

Profissionalismo no dos outros é refresco

Em um dos livros mais importantes do século XX, George Orwell criticou entre outras coisas o uso da linguagem pelo estado. Em 1984 Orwell mostrou o poder que denominar algo tem para a formação do pensamento humano, usando como um dos  exemplos o ministério da paz, o qual era responsável por todas as atividades de segurança interna e externa do país. Não estávamos mais tratando de guerra, apesar de ser isso que de fato tratava o ministério da paz. Não passa despercebido que este tipo de manipulação também é utilizada sem problemas nos departamentos de propaganda e marketing mundo afora.
O mundo esportivo é um dos pontos mais altos do poder de marketing no mundo moderno. Os grandes atletas devem ser exemplos de cidadão, modelos para roupas, relógios, carros, perfumes e ainda para crianças e adolescentes.Não podem ter visões políticas polêmicas ou consideradas extremadas pelo público alvo de seus patrocinadores. Todo esse processo está óbvio presente no futebol e todo esse texto vem por causa dessa foto tirada após a vitória contra a Escócia, e portanto antes do amistoso contra a Espanha.


Wayne Rooney, o maior goleador que já vestiu a camisa dos 3 leões com 53 gols, foi fotografado embriagado em uma festa com duas garotas ao seu lado. Em outras fotos do tablóide Rooney é visto quase sem conseguir se manter em pé sozinho. E o mundo do futebol inglês quase veio abaixo com isso. Opinião do clube, do Manager e do técnico inglês e da FA e é claro das empresas que patrocinam todos os diretamente relacionados ao atleta. Nessa busca pela próxima manchete foram perguntar a Jurgen Klopp a sua opinião (perceba que Klopp não treina nem nunca treinou Wayne Rooney).
Eis que Klopp sai com uma das melhores respostas possíveis. “Eu sei que estamos no lado ensolarado da vida, ganhamos muito, temos o trabalho que amamos, talvez venha como uma surpresa que também somo humanos. Algumas vezes nós somos convidados para casamentos, aniversários ou o que seja. Se te oferecem uma bebida você pode dizer não, mas não é assim que a vida funciona.” O manager alemão continua “Essa geração é uma das mais profissionais que a Inglaterra já teve. Todas as lendas que amamos bebiam como demônios e fumavam como loucos e eu não conheço ninguém que faz isso hoje em dia.”  Chamo aqui a atenção para a palavra que ele usou para qualificar a geração inglesa. Profissionais.
Dessa declaração do Klopp tiro duas considerações. Primeiro, Klopp não conhece O didico. Segundo ser profissional é lutar contra a própria humanidade em você. É isso que o mundo esportivo de alto rendimento se tornou. Não só pelo avanço científico e de rendimento, que merece um texto aparte, a imposição por uma imagem a ser vendida faz com que os jogadores precisem ser modelos de comportamento a serem expostos, admirados e usados.
Até que ponto é justo cobrar do jogador tudo isso? Existe uma frase atribuída a George Best um dos maiores jogadores de todos os tempos que diz “Gastei metade do meu dinheiro com bebidas, mulheres e carros rápidos. O resto eu desperdicei” Você consegue ver algum atleta com essa atitude hoje em dia? Mas e se eu perguntar se você consegue ver algum ser humano com essa atitude? Talvez você que lê poderia querer uma vida mais hedonista como a de Best.
Em nome dos resultados em campo e financeiros os atletas não podem aproveitar a vida como a maioria de nós gostaríamos de aproveitar a nossa. Não precisamos ir aos exageros de Best para isso. No futebol das marcas ter opinião religiosa ou política é quase crime e os contratos vem com clausulas de conduta. Não permitimos que o atleta expresse sua humanidade de ser falho. Modelos à venda não podem ser falhos.
Garrincha, Sócrates, Gerd Muller, Cantona, George Best, Casagrande e Maradona. Nenhum deles seria visto da mesma forma no futebol de hoje. Talvez não tenhamos esses jogadores devido ao tolhimento em nome do profissionalismo. Será que hoje seria possível ter um movimento como a democracia corinthiana em um país dividido como o nosso no momento? Será que algum clube do mundo iria contratar O Garrincha hoje? Ou O Maradona? Tenho receio de que todas as respostas seriam ‘não’. E por quê? Pois estes jogadores não são profissionais. Eles são falhos. Eram jogadores de futebol. Quase deuses quando em campo e falhos como eu e você fora dele. Com o dinheiro e poder rápidos vem cobrança e vigilância constantes.  Em nome do profissionalismo, recusaríamos o futebol destes e talvez estejamos recusando de alguns hoje. Em nome do profissionalismo, não aceitamos as falhas humanas daqueles que devem ser modelo aos outros antes de viverem a própria vida. Em nome do profissionalismo desumanizamos o jogador e por fim a nós mesmos quando usamos como exemplo uma imagem artificial, incompleta e imposta.

sexta-feira, 11 de novembro de 2016

Cri$$$tiano Ronaldo, máquina de gols e dinheiro

Cristiano Ronaldo dos Santos Aveiro, certamente mesmo que você nunca tenho assistido uma partida de futebol já ouviu ou leu o nome do português, dono de marcas espetaculares na carreira uns o taxam de arrogante, prepotente e narcisista, outros vêem no gajo um dos atletas mais incríveis que já vimos no esporte e tem na competitividade uma das suas características mais marcantes, chegando a protagonizar cenas curiosas em jogos e treinos.  Mas a carreira do portuga é incrível desde o começo, e sua gana por vitórias e mais vitórias já era percebida desde os tempos de Sporting de Lisboa até sua chegada ao poderoso Manchester United na Inglaterra, onde ganhou tudo e mais um pouco tanto no âmbito coletivo e individual: campeonato inglês, UEFA Champions League, a tão sonhada Bola de Ouro, gols e mais gols, o português despertou o sonho do poderoso Real Madrid e embarcou rumo a Espanha, atrás de mais motivação e marcas incríveis. E este ano, ele ajudou a levar sua seleção nacional ao belo título da Eurocopa.

        Prazer leitor

Perceba que nesta breve introdução  dei ênfase às marcas e recordes do gajo e isso desperta o interesse, claro, de marcas mundialmente conhecidas que buscam ter sua imagem ligada ao sucesso, às conquistas e ao perfil dele como pessoa e atleta. Veja se você conhece as seguintes “brands”: Armani, Kentucky Fried Chicken, Herbalife, Castrol, Tag Heuer, Pokerstars, Clear, CR7 Footwear, Hoteis Pestana CR7, Nike...é amigo, é um arsenal dos mais repletos segmentos representados numa só pessoa. Automobilístico, roupas, relógios, moda, entretenimento, alimentação, Ronaldo acumula além de suas conquistas muita, muita grana mesmo, e esta semana foi anunciada a assinatura de um contrato vitalício com a Nike, fornecedora de material esportivo pessoal dele, com um valor fixo e outro montante variável.

                                          Evento da Castrol e sua grande estrela

Pô Denis, só fala de marca,nome, blá blá blá, cade o $$$? Vê aí um pouco do potencial da fera:


  • Salário no clube – 32 milhões de euros/ano (mais bônus por desempenho individual e coletivo);
  • Pokerstars – 2 milhões de euros por ano, desde 2015;
  • Castrol – 6 milhões de euros por ano, desde 2009;
  • Kentucky Fried Chicken – acordo voltado para o mercado asiático, rende 1,5 milhões de euros por ano desde 2013;
  • Hotéis – Ronaldo investiu aproximadamente 15 milhões de euros e construiu dois prédios, um em Funchal e outro em Lisboa;
  • Novo acordo com a Nike – 20 milhões de euro/ano (valor fixo, que pode variar até 40mi/ano);
  • Faturamento dos patrocinadores – 176 milhões de dólares/ano (aqui tratamos do retorno que a marca obtém investindo no craque, este valor é o somatório total das marcas em questão);
  • Valor de mercado – 130 milhões de euros (o Real não deve imaginar vender seu maior astro, tendo inclusive seu contrato renovado até 2021);


Todos os valores são aproximados, nós do blog buscamos referências em conceituados portais, como: Transfermarket; Forbes; Espn; Skysports.

                                              CR7 no anúncio de sua renovação com o Real

A receita é infalível, enquanto o cara é uma máquina de gols e desempenho em campo, seus patrocinadores pagam rios de dinheiro ao atleta e têm todo o tipo de retorno possível e imaginável, aquela propaganda escrota do ClearMen anticaspa, o gajo simulando partidas de poker no seu celular, é impressionante a quantidade de associações que são feitas nessa relação atleta – patrocínio. Mas como o Return on investiment funciona? Vejamos de uma maneira simplificada a fórmula: ROI (%) = [(Lucro – Custo do Investimento) / Custo do investimento] x 100; imagine que a Pokerstars pagou 1 milhão de euros numa campanha estrelada por Ronaldo, e teve retornos em seus torneios arrecadando 4 milhões, temos que [(4 – 1) / 1] X 1 =  3, A ABSURDA marca de 300% de ROI.

Caramba e ainda tem a grana que ele embolsa no clube né? Exatamente camarada, mais dinheiro, mais rentabilidade, mais retorno. Num clube de ponta como o Real Madrid a marca é explorada com primor, expansão a Ásia já é realidade, contratos multimilionários com fornecedor de material esportivo, patrocínios de camisa, placas de publicidade em centros de treinamento e um tipo peculiar de associação, muito comum em potências européias. Para celebrar grandes títulos, ou inícios de temporada, o pessoal recebe alguns “brinquedinhos” para usar, carros da marca Audi, geralmente lançamentos, são “doados” para os jogadores exibirem nas ruas e criar ainda mais a sensação de poder e sucesso, aliados a Audi e o potencial do clube.


Uns chamam de exagero, outros apenas apreciam, há ainda aqueles que insistem em minimizar o portuga, e ressaltar sua rivalidade com Lionel Messi...eu prefiro apenas assistir os gols, jogos, e saber que um dia poderei contar aos meus filhos que vi um dos melhores atletas que o mundo do esporte presenciou, independente da conta bancária dele aumentar ou diminuir, e torcer também pra quem sabe um dia ganhar 1% dessa grana aí.

terça-feira, 8 de novembro de 2016

Saiu o regulamento do Cearense2017 e ficou oh...uma b0$%@!

Depois de um interminável imbróglio judicial devido à tremenda desorganização ocorrida na Segunda Divisão do Campeonato Cearense de 2016, com diversos WO's, time sem pagar taxa de arbitragem, entrando na justiça pra pleitear uma vaga na elite de 2017 - o Ferroviário vai ter de se contentar em disputar a segundona novamente, provavelmente - e após o STJD ordenar a realização do Congresso Técnico do Campeonato Cearense de Futebol da Primeira Divisão de 2017, foi definida a fórmula de disputa do certame do ano vindouro. E é uma lástima.
Crédito da imagem ao Diário do Nordeste

Em linha gerais temos: uma primeira fase disputada em turno único entre os dez times. De cara, os dois piores classificados são rebaixados à segunda divisão. Mas qual o sentido de termos, entre dez participantes, oito classificados à segunda fase? Quase que nulifica esse primeiro turno, especialmente para Fortaleza e Ceará, visto que são os times que indefectivelmente ocupam as primeiras posições na tabela. Concluído esse primeiro estágio temos o já conhecido chaveamento: 1ºx8º, 2ºx7º, 3ºx6º e 4ºx5º. Os times agora se enfrentam em dois jogos, ida e volta, sem vantagem de gols fora, saldo de gols ou melhor campanha. Em caso de resultados iguais teremos a decisão por 
pênaltis.

Cartolas durante a realização da reunião que definiu a fórmula de disputa do 'Cearensão 2017'


Na sequência temos a realização das semi-finais no formato de mata-mata, esse ano com uma novidade: o playoff. Mas o que seria isso? Realizar-se-ão duas partidas, ida e volta, em que também não serão considerados o saldo de gols ou os gols fora como critério de desempate. Em caso de resultados iguais, teremos a realização de um terceiro jogo, o playoff, no campo do time de melhor campanha.   

Se o futebol cearense não existisse, teria de ser inventado.

Chegamos à grande final(Ufa!). As duas equipes sobreviventes disputarão mais dois jogos, com regulamento semelhante à semifinal e, portanto, a realização do playoff se necessário. Dessa bagunça organizacional sairá o campeão cearense de 2017. 

Algumas considerações necessitam ser feitas:
- O Ferroviário ainda não esgotou todas as instâncias esportivas e promete ir até a justiça comum, se necessário, para garantir sua participação na elite de 2017. Um possível resultado disso seria a paralisação do certame do ano que vem no meio de sua realização, vide a lentidão com que anda nossa justiça.
- Qual a necessidade de garantir-se a passagem de OITO equipes (de DEZ) pra segunda fase? Mesmo a argumentação de dar maior 'emoção e competitividade' ao torneio não se sustenta. Na prática, o que se tem é a desvalorização dessa primeira parte do torneio, especialmente por Ceará e Fortaleza.
- As frequentes mudanças na estrutura e regras do campeonato tendem à desvalorizá-lo. Lógico que o encolhimento do calendário e a menor quantidade de datas disponíveis para a realização das rodadas atrapalha, mas com mais organização e seriedade seria possível encontrar uma fórmula sustentável e que agradasse à maioria das equipes. 

Federação e clubes: parabéns aos envolvidos nessa bagunça.

Assim segue o futebol cearense. Num mar de bagunça e amadorismo. Mesmo assim (e infelizmente) é o único título que os grandes locais costumeiramente tendem a ganhar ano após ano, já que os campeonatos nacionais passaram longe do alcance ultimamente. Torçamos e cobremos de nossos dirigentes mais seriedade e profissionalismo. Só assim o futebol cearense, de torcida vibrante, apaixonada e presente, terá a merecedora presença de destaque no cenário nacional. Não é difícil(que o diga Santa Catarina, por exemplo, com seus times constantemente presentes na Série A, além da histórica campanha da Chapecoense na Copa Sul-Americana desse ano.)

Até a próxima. E, se me permitem, diz aqui o coração tricolor: que venha o tri! :) Um abraço.


quinta-feira, 3 de novembro de 2016

Curtas memórias de um ídolo



Semana retrasada, mais precisamente no dia 20/10/2016, completou-se 25 anos do tricampeonato de Ayrton Senna na Fórmula 1 no Japão. Um feito épico e que inspira pessoas no mundo do automobilismo até hoje, pilotos, mecânicos, diretores, muita gente que conviveu com ele durante anos e que fazem inúmeros relatos do quão espetacular Ayrton foi dentro e fora das pistas. Em 1991, este que vos escreve tinha apenas 4 anos e as poucas coisas que lembro ou assisti de Senna são frutos de vagas lembranças das manhãs de domingo, onde o país parava para comemorar vitórias certas do piloto, matérias e vídeos que vejo até hoje são os componentes de minha memória sobre este gênio do esporte.

Se me atrevesse a fazer um relato de sua trajetória, por mais breve que eu quisesse, seria impossível de faze-lo aqui neste humilde espaço. Ayrton é tema de inúmeros materiais sobre sua vida pessoal e profissional, dono de uma personalidade forte e que sempre provou estar à frente de seu tempo, características dos gênios, ele buscava sempre a melhoria das condições de competição, era duro com os chefões do circo da F1 e muitas vezes se metia em controvérsias com pilotos. Há uns dois anos atrás assisti um documentário, bem emocionante por sinal, que fazia um relato desde seu começo nas pistas, sua vida pessoal também, até o fatídico dia em Imola que encerrou abruptamente a vida do piloto deixando um misto de saudade e orgulho por tudo que ele representa e representou até hoje, mas não falemos disto. Caso você que está lendo agora não conheceu o Senna, faça uma rápida busca na internet, vídeos com manobras espetaculares, o socorro heróico a um companheiro na pista e que teve um final feliz, vitórias inacreditáveis e a famosa trilha sonora que ditava o ritmo das manhãs de domingo são algumas coisas que você poderá ter o prazer de assistir, mesmo que não entenda muito de corridas, verá que havia uma atmosfera incrível de emoção que envolvia o piloto e seus feitos dentro e fora dos traçados desafiadores.

No exterior Senna é considerado um ícone do esporte por tudo que fez dentro e fora das pistas, inclusive um instituto social que carrega seu nome e tem como responsável sua irmã Viviane Senna, Ayrton foi a personificação de sonho de crianças e jovens da época. Um bom vivant clássico, e muito apegado aos familiares e amigos mais próximos, certamente Senna tem mais admiradores do que se possa imaginar, tendo a curiosa alcunha de Samurai das Pistas no Japão, e adorado pelo povo nipônico. Quando criança, por volta de uns sete ou oito anos, ganhei uma camisa do Seninha, personagem criado para ajudar a imortalizar a figura do piloto e que fez bastante sucesso na época e hoje, depois de marmanjo, tenho uma pequena foto sua em um dos vários pódios na carreira com a seguinte frase: No que diz respeito ao empenho, ao compromisso, ao esforço, à dedicação, não existe meio termo. Ou você faz uma coisa bem feita ou não faz.” 

Sem dúvidas Senna ajudou a alegrar muitas vidas, mesmo que por pouco tempo naqueles domingos, seja de pessoas próximas ou de quem ele nunca conheceu, que é o meu caso e de outros tantos milhões de brasileiros que sempre vão se lembrar dele da melhor forma possível.




Obrigado Ayrton!

Denis Mourão - Administrador, corredor e vascaíno sim senhor /+/

quinta-feira, 20 de outubro de 2016

Dirigentes ou políticos?

      Deixo bem claro que sou suspeito para falar do tema, como apaixonado pelo futebol que sou apesar dos seus pesares, afirmo categoricamente que o futebol jogado e administrado no nosso país muitas vezes é um límpido espelho da nossa sociedade. Tentarei exemplificar e fazer um paralelo, com o intuito comprovar que por várias vezes que o interesse pelo próprio umbigo está acima do interesse maior, e quisera eu que isso fosse o inverso em algumas ocasiões e outras esferas do nosso país (quanta utopia).

     Você que acompanha avidamente essa reta final de Brasileirão, onde Flamengo e Palmeiras disputam o título palmo a palmo, acompanhados de perto por Atlético Mineiro e Santos ou até mesmo quem só vê e ouve por cima, deve ter reparado no noticiário ultimamente a polêmica instaurada em torno da peleja da última quinta no magnífico clássico carioca Fla – Flu. Um gol marcado pelo Flu gerou uma paralisação de quase 15 minutos, enquanto o trio de arbitragem discutia se anulava ou não o tento, tudo acompanhado por policiais, comissões técnicas, repórteres e gente que não deveria estar ali. Muita conversa e reclamações depois o gol foi anulado para a ira dos tricolores, apesar do impedimento ter havido de fato, o que está causando todo o imbróglio que foi parar no STJD, e alvo de reclamação do próprio presidente do famigerado tribunal, é uma suposta interferência externa ao trio de arbitragem.

     Naquele mesmo dia, Palmeiras e Cruzeiro empataram sem gols e com a vitória rubro negra a distância se encurtou mais ainda. A polêmica no Rio fez com que os ânimos dos dirigentes se exaltassem e rapidamente farpas começaram a ser trocadas, via tv e mídias sociais, repletas de ironia as críticas faziam ameaças veladas e levantaram suspeitas quanto à idoneidade do campeonato. E para esquentar ainda mais a cabeça de torcedores e dirigentes, no jogo do último domingo entre Palmeiras e Figueirense, mais reclamações de parte a parte sobre pênaltis polêmicos, tendo os alviverdes vencido o jogo, e o jogo se torna alvo do STJD novamente através do Figueirense. Os presidentes de ambas as instituições são conhecidos pelo bom trabalho que vem fazendo nos seus clubes, de maneira até exagerada por alguns setores da mídia são taxados como o supra-sumo da administração moderna e isenta de erros. Mas aí amigo, ante tudo o que eles falam ou deixam de falar frente às câmeras, existe algo que é igual no Palmeiras, no Flamengo, e com todo o respeito, no Íbis: a paixão; e tomados por este nobre sentimento, eles fizeram igual ao torcedor mais simples: defenderam com unhas e dentes apenas o lado que os interessa.

                                          Presidentes agem como torcedores e incendeiam o campeonato

     Digo isto, pois como autoridades maiores de clubes gigantes do nosso futebol, eles deveriam ter uma postura completamente profissional, e dado o cargo que ocupam tinham que se preocupar com os problemas estruturais do nosso futebol, como profissionalização da arbitragem, trazer o poder de organizar campeonatos mais fortes e rentáveis para as mãos dos clubes, quebrar as hegemonias dos direitos de transmissão, mas ao invés disso preferem defender o próprio umbigo. Agora pare e pense um pouco, imagine uma disputa eleitoral de segundo turno, repare nas ações dos candidatos que muitas vezes se preocupam somente em agredir e denegrir o adversário, isso soa familiar? É exatamente da mesma maneira que os senhores Paulo Nobre e Bandeira de Mello agem agora, e vão agir até a última rodada. Preocupados única e estritamente com suas próprias agremiações, pouco estão se lixando para a melhoria da arbitragem, para o debate da necessidade ou não de incorporar o auxílio da tecnologia ao esporte bretão (auxílio este já presente em algumas partes do mundo e em outros esportes de alto nível, tais como basquete, futebol americano e vôlei). É estarrecedor constatar isso, porém mais um ano está acabando e nenhum fato novo surge para acalentar o sofrido torcedor que só quer ver uma disputa mais limpa, menos confusa e um time mais estruturado, seja lá sob a batuta de quem for.


Denis Mourão - Administrador, corredor e Vascaíno sim senhor /+/

terça-feira, 18 de outubro de 2016

O adeus a um mito

Essa semana, a crônica esportiva cearense, torcedores, clubes locais, telespectadores da TV e do rádio, amanheceram de luto. De supetão, pela madrugada, após um mal súbito seguido de um infarto, partiu Carlos Frederico Costa Carneiro, nosso querido Carlos Fred. Com apenas 65 anos de idade, deixa órfã uma legião de fãs que o acompanhavam diariamente na Tribuna Band News FM.

O moço de Antônio Bezerra iniciou sua extensa carreira jornalística em 1969, na Rádio Dragão do Mar, passando posteriormente por outras inúmeras emissoras como a Rádio Uirapuru, Rádio Cidade, Ceará Rádio Clube e Rádio Verdes Mares. A primeira lembrança que tenho do Fred é a de suas participações na TV Diário, especialmente no programa Grande Jogada, onde dividia a mesa com outras grandes figuras do jornalismo esportivo local tais como Tom Barros, Sebastião Belmino e PC Norões. O ambiente descontraído do programa propiciava boas discussões e risadas, sem perder o profissionalismo. Fred comentava, na maior parte das vezes, as notícias e matérias relacionadas ao seu time do coração, Fortaleza Esporte Clube, o que não o impedia de interagir sobre qualquer outro assunto que fosse levantado no programa, mesmo quando se tratava de times 'rivais'. Um profissional de mão(e cabeça, idéias e gogó - pois também era narrador) cheia.

Fred na bancada da 'Grande Jogada'

Os que tiveram o privilégio e prazer de trabalhar com Fred destacam sua memória aguçada. Facilmente lembrava-se de fatos, times e escalações de décadas passadas. A espontaneidade com que comentava, deixava transparecer o prazer com que trabalhava, além da inteligência natural e a percepção clara que passava aos seus ouvintes de se estar escutando alguém que sabe do que está falando. Fred participou ainda da cobertura de quatro Copas do Mundo de futebol (1986/1990/1994/1998), e nesse ano de 2016 havia completado incríveis 45 anos de carreira. 

Seu último trabalho foi compor a equipe esportiva da Tribuna Band News FM junto dos não menos brilhantes Jussie Cunha e Caio Costa. O programa "Tribuna Band News Esporte" logo se popularizou, vide a interatividade que o mesmo promove com os ouvintes através do canal do Whatsapp, além da liderança carismática de Jussie, o que dá um ar de informalidade e um toque humorístico ao jornal. Titular absoluto na locução das transmissões de jogos dos grandes locais, foi na Tribuna que Fred recebeu os apelidos que o popularizaram nos últimos tempos: 'Bom Velhinho' e 'Mito'. Esse último foi inclusive adotado pelo público e pela própria emissora, dando origem a inúmeras montagens engraçadas e de muito bom gosto, o que serviu ainda mais pra que Fred caísse no gosto da galera.





Fred vai deixar saudade. Partiu sem ter a oportunidade de ver seu amado tricolor longe do calvário que o acompanha desde 2009, a terceira divisão. E, mesmo sendo declaradamente tricolor, exercia sua profissão com extremo profissionalismo, sendo chamado pela torcida do Ceará de o "mais alvinegro entre os tricolores". Nós, que o acompanhávamos diariamente, sentiremos saudade. Afinal, infelizmente, alguns mitos também morrem. Vai com Deus Fred e até a próxima! 

Pra matar a saudade e guardar na memória, a narração do gol do acesso do Fortaleza E.C. à série A em 2004. 



   

segunda-feira, 10 de outubro de 2016

Sobre calvários e eliminações

A eliminação de ontem diante de 60 mil incrédulos no Castelão, e outros tantos em suas casas, bares e restaurantes ainda está viva e tão cedo sumirá da mente do torcedor leonino. Sem contar a munição extra para os alvinegros zoarem seus rivais por mais um tempo, fato é que ano após ano, o torcedor tricolor leva um duríssimo golpe ao fim do ano, e para aumentar o requinte da crueldade, é a quarta vez consecutiva que o filme de terror se repete dentro de casa.

De antemão, como já citei antes no blog não sou torcedor de nenhum dos dois times da capital e não quero tripudiar de ninguém, ainda mais porque meu querido Vasco não me dá motivos pra tal, freqüentando a série B novamente este ano e capengando na reta final pra variar...enfim o que pretendo ao longo deste rápido texto é fazer um paralelo de ambas as situações e levantar uma questão um tanto quanto polêmica, o regulamento da série C. Comecei a acompanhar o Vasco ainda garoto, e peguei o time no auge do esquadrão de 97-2000 onde o cruzmaltino ganhou praticamente tudo que disputou e fez a alegria de milhões de torcedores, Edmundo, Odvan, Mauro Galvão, Juninho, Romário ( só lembranças nada mais). Ao decorrer desta década administrações pífias conduziram o time ao primeiro rebaixamento, quem não lembra da marcante imagem de um torcedor ameaçando pular da marquise de São Januário? Caiu uma, duas e hoje amarga a terceira vez na segundona e a sensação entre uma parcela considerável da torcida é um misto de conformismo e indiferença com a situação, devido a uma série de fatores que não cabe aqui mencionar.

                                   Calma aí amigão, o mundo não acabou.

Voltando para terras alencarinas, o tricolor de aço já conseguiu o acesso a primeira divisão num passado recente, inclusive com campanha marcante como em 2002 chegando a bater o São Paulo que viria a ser campeão mundial em dezembro daquele ano, tendo outros tantos resultados expressivos, Castelão constantemente lotado e assim como o Vasco degringolou com o passar da década e estacionou na terceira como carro atolado em lama. Hoje mesmo falando com alguns torcedores, e vendo grupos e relatos nas redes sociais também vejo o sentimento confuso de conformismo e indiferença, um pouco de raiva talvez de alguns lembrando a arbitragem do primeiro jogo que anulou um gol legítimo no jogo em Caxias.

O que está em jogo aqui é o sentimento do torcedor, jogadores vêm e vão assim como dirigentes, mas o apaixonado é quem amarga a situação na pele, é ele quem promete não ir mais aos jogos no calor da raiva, ele quem pensa em cancelar o sócio torcedor, que não faz questão de vestir aquela camisa preferida da coleção. E isso amigo é um tanto quanto perigoso, apesar de existirem algumas pesquisas que mencionam “ganhar e perder” torcedores, particularmente não acredito muito neste termo mas é inegável que o clima fúnebre de alguns cause essa indiferença e conformismo da qual falei. Dando uma pincelada no regulamento acho um tanto quanto covarde, começa com pontos corridos, vira mata – mata com uma vantagem um tanto quanto enganoisa, que é decidir a volta em seus domínios, e valendo ainda o famoso gol fora de casa. Ora, acaba sendo uma fusão de três tipos de disputa numa só e que podem causar danos irreparáveis como já aconteceu ao Fortaleza, ano de melhor campanha e ataque e sucumbiu no Castelão de maneira cruel, tenho lá minhas dúvidas se houvessem mais times do eixo sulista envolvidos se não já tinham repensado uma fórmula mais simples, ou pontos corridos diretos, ou um mata – mata sem gols fora de casa, onde o dono da melhor campanha poderia jogar por dois resultados iguais.

Ficam aqui duas vertentes, que apesar de serem simples pedidos de um reles torcedor não deixam de ser uma forma de expressão, que acredito serem semelhantes à de milhares por aí. Não abandone seu time por mais tenebrosa que seja sua situação, mais cedo ou mais tarde você tá no estádio de novo, sofrendo e torcendo como se o ano passado não tivesse existido, e debata e discuta meios de melhorar seu time, seja apoiando, seja aderindo ao plano de sócio, botando pilha nas redes sociais e cobrando sempre da melhor forma, sem violência e com diálogo sempre.
                          Que essas cenas de festa e alegria sempre se repitam em qualquer divisão.

Saudações ao futebol!!!

Diga não a gourmetização!

Denis Mourão, administrador, torcedor, vascaíno e corredor /+/

domingo, 9 de outubro de 2016

Nervosismo à flor da pele!

     Hoje o Tricolor de Aço do Pici buscará seu maior objetivo do ano, frente à equipe do Juventude: o acesso para a Série B do Campeonato Brasileiro. Pode esperar, será um jogo de acabar com o juízo de qualquer aficionado. O Leão é craque em fazer isso com a torcida. Mas no final o sabor da vitória tira todo o gosto ruim da angústia do tempo regulamentar. 



     Aqui vai um relato de um desses jogos que tirar o fôlego e a paciência da torcida, mas no final deu tudo certo.

Castelão, dia 03/03/2015: Fortaleza 2 x 0 River-Pi -  Copa do Nordeste.

     Já passavam dos 40 minutos do segundo tempo. Apesar das diversas chances, o zero a zero já parecia certo.

     A impaciência da torcida aumentava, assim como o número de cigarros que o torcedor que estava ao meu lado fumava. Um cigarro atrás do outro, ele fumava sem parar.

     Uma parte da torcida começava a ir embora. Mas a grande maioria, entre vaias e reclamações, permanecia no Castelão. Afinal, como diz um dos célebres ditados da bola: “o jogo só acaba quando o juiz apita”.

    E ele apitou. Mas para marcar uma falta na intermediária para o Fortaleza.

    O volante Corrêa, capitão da equipe tricolor, demorou alguns segundos arrumando os meiões antes de cobrar a falta. Será que tentava lembrar alguma jogada ensaiada? Acredito que não. Até porque aquela altura da partida não existia mais nada para orquestrar. Enquanto Corrêa realiza seu íntimo ritual, o torcedor ao meu lado acende outro cigarro. Pelo nervosismo do momento, até a vontade de voltar a fumar bateu em mim. Mas aguentei firme e as unhas foram minhas vítimas. 

     O árbitro autoriza a cobrança. Após a curta conversa com a bola e os meiões, o capitão alça a bola na área. O bate e rebate na grande área dura intermináveis dois segundos. A bola sobra limpa para Daniel Sobralense abrir o placar para o Leão do Pici.

     A torcida tricolor troca as reclamações pelo grito de gol guardado há 90 minutos.


     Depois da euforia, olho para o torcedor desconhecido ao meu lado. Não portava sorriso no rosto, mas feição de alívio depois do gol. Após uma bela tragada em seu cigarro, ele me diz de uma só vez: “Meu Deus, ainda vou morrer disso”. 

     Espero que, depois de uma ano, esse torcedor desconhecido não tenha "morrido disso" e esteja vivinho para ver o acesso tão sonhado.




sábado, 1 de outubro de 2016

O poder da memória



Era uma noite de semana, sei disso porque saímos apressados de casa. Chegamos ao melhor estádio do mundo, o meu PV, eu e meu pai. Devia ter uns 9 anos, ainda não pagava para ver o Ceará. Meu pai me leva à entrada para crianças e diz para ficar esperando ele do lado de três homens, eles estavam de farda. Fique do lado deles até eu chegar, disse meu pai com toda a seriedade possível, mesmo não sendo a primeira vez que ia ao estádio. Entrei, esperei e pouco depois o vi entrando. Corria para acompanhar seu passo. Pai, pipoca! Paramos. Outro vendedor atento aproveita e oferece uma camisa do vozão para o filhinho. Meu pai compra e manda eu colocar. Disse que precisávamos ganhar e estava mais que na hora de ter minha camisa. De repente duas pessoas chegam perto do meu pai. Eu já tinha visto o que carregava o microfone mas nunca tinha visto o que tinha o aparelho preto no ombro. Eles olham pra mim, me filmam colocando a blusa e perguntam o placar do jogo. 2x0 pro Ceará digo de pronto. Gols de Maradona e Tiaguinho. Meu pai ri, agradece, me puxa e é isso. Só lembro até ai. Não me lembro de nada do jogo ou do adversário, placar ou artilheiros.
Essa é uma das minhas memórias mais antigas envolvendo estádio e o valor dessa nostalgia emotiva que ganhei do meu pai soube que tinha valor mais que sentimental por causa de um senhor de cabelo branco e voz rouca. O fundador do meu canal esportivo preferido. A ESPN Brasil do José Trajano. Para mim, sua saida, é motivo o bastante para um pouco de chateação. Recebi a notícia sem acreditar. Ele trouxe para a casa tantos jornalistas que hoje admiro. Como queria entender mais de futebol aos sete anos e ver Chico Buarque e Tostão (!!!) juntos debatendo a copa de 98. Jornalistas, esses, que me faziam correr da parada do ônibus para escutá-los. Adorava ver o Mauro Cezar Pereira e O PVC cada um com um argumento melhor que o outro a debater e o Trajano, junto com o Juca Kfouri, a contemporizar e mostrar que tinha mais coisa naquele problema. Falas de quem conhecia o meandro do futebol e do jornalismo brasileiros.
"O melhor mau humor da TV brasileira" disse Washington Olivetto sobre ele. Devido sua posição política convicta e escancarada junto a esse mau humor marcante, sua saída levantou uma certa discussão até fora do meio esportivo e especulações sobre o motivo surgiram. Obviamente, não disponho de informação privilegiada sobre o assunto. O que tenho certeza é que a ESPN Brasil não pode desapontar o Trajano. Em um futebol dominado de forma monopólica pela Rede Globo, a ESPN do Trajano sempre foi o epicentro de crítica ferrenha aos erros dos cartolas, sejam dos clubes ou da CBF, algo que a outra emissora sempre tratou com panos quentes enquanto era conveniente.
Infelizmente, acredito que no momento de busca por likes e viralizações do jornalismo aquele vovô mau-humorado e cheio de histórias nostálgicas sobre o América, a Tijuca e o Maracanã não se encaixava. Simplesmente por ser um vovô nostálgico. Na verdade, isso não importa tanto, já que sua carreira afetou toda uma geração de apaixonados por futebol e esportes que vêem a diferença da ESPN do Trajano em relação à concorrência, além dos jornalistas hoje espalhados por ai. Espero ansioso o próximo projeto. Acompanharei e aprenderei um pouco mais. Pois o vovô mau-humorado me ensinou que a primeira vez que usei uma camisa do Ceará no estádio não é apenas uma memória perdida na cabeça e sim algo de valor que compartilho com milhões de apaixonados por futebol em todo o planeta.

sexta-feira, 30 de setembro de 2016

Muito mais do que um cheirinho de eliminação


Eu aposto que até agora você nunca havia ouvido falar da equipe do (Club Deportivo) Palestino. Aliás, até a última quarta-feira, quando esse time proporcionou péssimas experiências ao Flamengo e à sua torcida(e muita alegria e gozações aos seus rivais, hahaha) e trouxe uma cheirinho de eliminação em competições internacionais pra Gávea mais uma vez.

Aposto que desse cheiro a torcida rubro-negra não tá gostando

Esse time chileno foi fundado em 20 de agosto de 1920, na cidade de Osorno(945km de distância da capital Santiago), por um grupo de imigrantes palestinos como forma de homenagem à sua cultura, adotando como cores o vermelho, branco, verde e preto(sim, as cores da bandeira do estado palestino). Não coincidentemente, é no Chile que se encontra a maior comunidade de imigrantes palestinos do mundo, cerca de 350.000 pessoas. Sua expressividade no futebol local pode não ser das maiores, mesmo assim, o time já levantou o caneco do campeonato chileno da primeira divisão em duas oportunidades: 1955(quando ganhou o apelido de 'Milionários' por atrair jogadores de renome) e 1978(capitaneados por ninguém mais, ninguém menos que Elias Figueroa - para muitos, o melhor jogador chileno da história), além da Copa do Chile em 1975 e 1977. 

Figueroa em ação pelo Palestino

Em sua origem, o Palestino só aceitava jogadores que tivessem ascendência árabe. Com o tempo, a prática mudou, a inserção de jogadores chilenos e estrangeiros aumentou e o resultado foi a conquista do nacional de 1955, o que agregou popularidade ao time. É lógico que a imbricada associação com a 'causa' palestina permanece. Em 2014, o time substituiu o número 1 nos uniformes dos jogadores em partida do campeonato chileno pelo antigo mapa do estado palestino, anterior à 1945 e a consequente criação de Israel. O fato gerou protestos de diversas organizações judaicas chilenas, além de render uma multa por parte da Federação Chilena de Futebol. Em 2015 o time conseguiu um feito histórico: voltou a participar da maior competição de clubes da América, a Copa Libertadores, o que lhe rendeu inclusive uma mensagem por parte do presidente da autoridade nacional palestina, o premier Mahmoud Abbas. Além disso, desde 2010 o clube é patrocinado pelo Bank Of Palestine, uma das principais instituições financeiras do território asiático. 

Foto pré-jogo de 1975 - ano em que o time ganhou a Copa do Chile

O que não quer dizer que o time exista exclusivamente em função da 'causa', ou que siga preceitos radicais islâmicos, como explica o atual presidente Eduardo Heresi em entrevista ao portal globo.com: "Não temos costumes algum ligado à religião muçulmana e por um motivo bem simples: somos quase todos imigrantes e descendentes de imigrantes cristãos aqui no Chile. 95% são católicos. Há poucos muçulmanos no Chile." Heresi, que é um empresário do campo da importação, explica ainda que a folha salarial do time gira em torno de 150 mil dólares(o gasto total mensal fica em torno de 350 mil dólares) por mês e fala que, ao contrário do que se possa imaginar, um jogador judeu seria bem vindo ao time e mandaria um sinal para todas as pessoas que insistem em fomentar o interminável conflito no Oriente Médio: "Se vier um judeu e tiver de acordo em jogar no nosso time, estaria dispostos a recebê-lo, com as portas abertas. Seria uma iniciativa maravilhosa do futebol pela paz, pela união. Não queremos separação, conflitos, nada disso."  

O time, hoje radicado em Santiago, joga em um campo pequeno, no bairro de La Cisterna, com capacidade para apenas 10 mil pessoas, que é alugado junto à prefeitura e não dispõe de iluminação artificial, o que faz com que todos os jogos tenham de ser jogados com luz natural. Mesmo assim, possui uma torcida fiel, em média 2.000 torcedores por partida, além da simpatia de muitos do outro lado do planeta, no Oriente Médio, que vêem na equipe chilena motivo de orgulho e representatividade de suas lutas e dificuldades na busca por um pedaço de chão. 

 
Imagens do jogo contra o Colo Colo, em 1978, e posterior comemoração do título chileno daquele ano.