sábado, 26 de agosto de 2017

Cobrança legítima - até onde?

Na última quinta-feira, 24/08, os jornais esportivos cearenses deram conta da agressão sofrida na noite anterior pelo meia Everton, do Fortaleza. As informações eram de que um grupo de "torcedores" do time tricolor haviam se dirigido até a residência do jogador, em Maranguape, no intuito de cobrar do atleta mais empenho e dedicação, frente a má fase do clube e do próprio. Pelo que foi noticiado, Everton se encontrava na calçada, junto de sua família, assistindo ao tradicional jogo de quarta-feira na TV e, ao perceber a chegada dos elementos, entrou em casa.



No dia seguinte ao ocorrido o atleta não treinou, se reuniu com a diretoria e está fora do - importantíssimo - jogo de domingo contra o CSA, o primeiro dos últimos três jogos da fase classificatória e que tem fundamental papel nas pretensões de classificação do Tricolor de Aço para a fase final da competição. Em entrevista informal por Whatsapp ao jornal O Povo , a esposa do atleta, que não teve seu nome revelado, deu maiores esclarecimentos sobre o fato: não houveram agressões físicas ou rojões, como especulado. Ainda segundo ela, o grupo estava calmo, salvo exceções de um ou dois sujeitos, tendo o "presidente-representante" sido educado e permitida sua entrada dentro de casa, visto que o mesmo queria dialogar com o jogador, não sendo possível, dado que Everton estava prestando assistência a avó (que devido a abordagem, estava a se sentir mal).

Isto dito, fatos postos, história explicada, fica o questionamento: COMO ISSO, POR QUALQUER MANEIRA QUE SEJA, VAI AJUDAR O JOGADOR OU O GRUPO NO OBJETIVO FINAL, QUE É O ACESSO À SÉRIE B DO CAMPEONATO BRASILEIRO? A minha resposta(e imagino que a da maioria das pessoas minimamente coerentes e que conhecem como pensam os jogadores) é: nenhuma. Tal comportamento é reprovável de todos os pontos de vista possíveis. Lugar de torcedor é na arquibancada. É lá que ele deve apoiar, incentivar e cobrar quando necessário. Lá ele pode xingar o juiz, o presidente, o jogador e até a mãe de todos eles(tá, xingar a mãe é pesado).

 Everton comemorando um de seus 14 gols com a camisa tricolor

"Ah, mas sou eu que pago o salário do jogador", "Ah, mas jogador ganha muito, tem de ser cobrado mesmo", "Ah, o cara bebe todo santo dia", "Ah, o cara não tá rendendo nada". Me desculpem os que pensam assim, mas nenhuma das alternativas acima justifica tal comportamento. Nenhum profissional, seja qual for a área que atue, merece ter seu descanso, sua casa, sua vida pessoal(mesmo sendo uma pessoa pública), sua privacidade e de sua família invadida desse jeito.

Resta agora ao novo treinador tricolor, Antônio Carlos Zago - que ainda nem estreou -, descascar esse abacaxi. Quanto ao jogador, que ao que tudo indica vá mesmo rescindir seu contrato, é notável que não apresenta os mesmos níveis técnicos mostrados em 2015 ou 2016. A questão é que o time todo também não está. A culpa não é exclusivamente do atleta, o elenco é nitidamente o mais fraco dos últimos anos e ninguém(talvez à exceção do goleiro Marcelo Boeck) vem se destacando. A despeito de um polêmico suposto acerto com o rival Ceará antes de sua chegada em março, Everton sempre se declarou torcedor do Fortaleza, apresentou bom nível técnico e muita raça nas mais de 70 partidas realizadas com a equipe tricolor e, vale lembrar, já jogou final de Cearense com o ombro gravemente machucado no fatídico ano de 2015(alguém disse Cassiano? :] ).

O choro de alegria e dor com o título e o ombro machucado em 2015

Com uma opção a menos no já parco setor de criação de jogadas e em um momento em que as inscrições já estão encerradas, o Fortaleza sofrerá pra substituir Everton. De aproveitável cite-se a reação da torcida que, em sua maioria, condenou os atos dessa 'meia dúzia' de irresponsáveis, culpados de envergonhar a gigante massa tricolor, além de manchar a reputação do clube diante de jogadores que pensem em vir a assinar com o clube. Note-se que as cobranças de torcida à elencos que tenham mal desempenho não é coisa nova. Neste mesmo momento em que escrevo, noticia-se a invasão do CT do Goiás, acontecida hoje a tarde, com direito a agressão de jogador que fazia reabilitação no DM e depredação da sede do clube. Mas daí a ter-se o absurdo de um jogador ser cobrado em sua própria casa, diante de seus familiares, há um longo caminho a percorrer e que, esperamos, não se torne conduta padrão por parte dos "torcedores".   

Forte abraço.  


segunda-feira, 21 de agosto de 2017

O terror do City ataca novamente.

Ao fim da última temporada, o casamento de 13 anos entre Wayne Rooney e o Manchester United chegou ao fim. Com um currículo invejável carregado de muitos títulos - 5x Premier League, 1x Copa da Inglaterra, 4x Copa da Liga, 1x Liga dos Campeões, 1x Mundial Interclubes - e, de quebra, tendo batido o recorde da lenda Bobby Charlton como maior artilheiro do clube na história com 250 gols, Rooney deu adeus de forma melancólica. 

Pouco vitorioso, o rapaz...

De capitão e titular no início da temporada, Rooney teve aos poucos seu papel diminuído na equipe pelo treinador José Mourinho. Não que a culpa fosse do português. Na verdade, a queda no nível técnico e físico (que já vinha dando claras mostras desde pelo menos duas temporadas atrás), o esquema adotado por Mou e a estelar temporada de Zlatan Ibrahimovic relegaram as contribuições do inglês a participações em partidas menos importantes e a entradas nos minutos finais dos jogos da Premier League(quando tanto). Mesmo assim, teve sua atitude e importância para o time frequentemente ressaltadas pelo treinador, que, evitando polêmicas em sua primeira temporada no comando da equipe, deixou Rooney a vontade para decidir seu futuro. 

Após o gol da quebra do recorde em janeiro, contra o West Ham, parecia claro que Rooney iria embora. O tão esperado gol havia saído e a sensação de dever cumprido era evidente. Mesmo assim, há de se ressaltar, em nenhum momento o então capitão de faz de conta reclamou ou fez birra. Na final da Europa League, com o resultado por 2x0 contra o Ajax garantindo o título, foi colocado em campo aos 44' do segundo tempo, de forma a ser aplaudido e levantar a taça. Missão cumprida.
Rooney e sua última taça com o United

Novo desafio, novos ares, mas nem tão novos. Rooney acertou a volta ao clube que o revelou, o Everton FC. Boas vindas calorosas por parte do clube e da torcida(esquecendo ambas as partes os inúmeros insultos e abusos trocados nos jogos em Goodison Park quando Rooney vestia vermelho ao longo dos anos), muitas fotos, declarações de amor e fidelidade e muitas, muitas dúvidas sobre a real capacidade do atacante em ainda fazer a diferença na liga mais difícil do mundo. Questões sobre o condicionamento físico do atleta, além da técnica decadente pairavam como nuvens no céu de Liverpool. 

Rooney apresentado: sorrisinho amarelo de quem esqueceu os insultos sofridos

Que venha a pré-temporada. Dia 13/07, amistoso contra o Gor Mahia, do Quênia: golaço de fora da área. "Ah, mas é só pré-temporada", eles disseram. Ok. 12/08, estréia na Premier League contra o Stoke City. 1x0 e o gol da vitória marcado por ele. 21/08, Etihad Stadium, jogo contra o estrelado City de Pep Guardiola: 1x1, mais um gol do inglês e os citizens penando pra arrancar um empatezinho.

Lógico que é começo de campeonato. Lógico que ainda há muita água pra rolar. Entretanto, o desempenho de Rooney até agora é pra deixar em polvorosa a torcida dos Toffees. Um time compacto e bem montado pelo holandês Ronald Koeman que, se souber superar suas limitações e contar com um bom ajuste da contratação recorde da história do clube - Gylfi Sigurdsson - tem tudo pra brigar na parte de cima da tabela. 

Seja pela mudança de ambiente, seja pela vontade de mostrar aos seus críticos que eles estão errados, seja pela ambição de jogar a Copa do Mundo da Rússia em 2018, Rooney tem dado mostras de que sim, ainda pode jogar em alto nível. E, como não podia deixar de ser, após mais um gol em um de seus adversários preferidos - o City sofreu também de Rooney seus gols de número 50 e 150 na EPL. Agora o 200 também - o atacante mandou aquele velho tuíte provocador: "Sempre bom ver rostos familiares."

"Sempre bom ver rostos familiares" 

Seguimos te acompanhando, Wazza...Once a blue, always a red.