Eu aposto que até agora você nunca havia ouvido falar da equipe do (Club Deportivo) Palestino. Aliás, até a última quarta-feira, quando esse time proporcionou péssimas experiências ao Flamengo e à sua torcida(e muita alegria e gozações aos seus rivais, hahaha) e trouxe uma cheirinho de eliminação em competições internacionais pra Gávea mais uma vez.
Aposto que desse cheiro a torcida rubro-negra não tá gostando
Esse time chileno foi fundado em 20 de agosto de 1920, na cidade de Osorno(945km de distância da capital Santiago), por um grupo de imigrantes palestinos como forma de homenagem à sua cultura, adotando como cores o vermelho, branco, verde e preto(sim, as cores da bandeira do estado palestino). Não coincidentemente, é no Chile que se encontra a maior comunidade de imigrantes palestinos do mundo, cerca de 350.000 pessoas. Sua expressividade no futebol local pode não ser das maiores, mesmo assim, o time já levantou o caneco do campeonato chileno da primeira divisão em duas oportunidades: 1955(quando ganhou o apelido de 'Milionários' por atrair jogadores de renome) e 1978(capitaneados por ninguém mais, ninguém menos que Elias Figueroa - para muitos, o melhor jogador chileno da história), além da Copa do Chile em 1975 e 1977.
Figueroa em ação pelo Palestino
Em sua origem, o Palestino só aceitava jogadores que tivessem ascendência árabe. Com o tempo, a prática mudou, a inserção de jogadores chilenos e estrangeiros aumentou e o resultado foi a conquista do nacional de 1955, o que agregou popularidade ao time. É lógico que a imbricada associação com a 'causa' palestina permanece. Em 2014, o time substituiu o número 1 nos uniformes dos jogadores em partida do campeonato chileno pelo antigo mapa do estado palestino, anterior à 1945 e a consequente criação de Israel. O fato gerou protestos de diversas organizações judaicas chilenas, além de render uma multa por parte da Federação Chilena de Futebol. Em 2015 o time conseguiu um feito histórico: voltou a participar da maior competição de clubes da América, a Copa Libertadores, o que lhe rendeu inclusive uma mensagem por parte do presidente da autoridade nacional palestina, o premier Mahmoud Abbas. Além disso, desde 2010 o clube é patrocinado pelo Bank Of Palestine, uma das principais instituições financeiras do território asiático.
Foto pré-jogo de 1975 - ano em que o time ganhou a Copa do Chile
O que não quer dizer que o time exista exclusivamente em função da 'causa', ou que siga preceitos radicais islâmicos, como explica o atual presidente Eduardo Heresi em entrevista ao portal globo.com: "Não temos costumes algum ligado à religião muçulmana e por um motivo bem simples: somos quase todos imigrantes e descendentes de imigrantes cristãos aqui no Chile. 95% são católicos. Há poucos muçulmanos no Chile." Heresi, que é um empresário do campo da importação, explica ainda que a folha salarial do time gira em torno de 150 mil dólares(o gasto total mensal fica em torno de 350 mil dólares) por mês e fala que, ao contrário do que se possa imaginar, um jogador judeu seria bem vindo ao time e mandaria um sinal para todas as pessoas que insistem em fomentar o interminável conflito no Oriente Médio: "Se vier um judeu e tiver de acordo em jogar no nosso time, estaria dispostos a recebê-lo, com as portas abertas. Seria uma iniciativa maravilhosa do futebol pela paz, pela união. Não queremos separação, conflitos, nada disso."
O time, hoje radicado em Santiago, joga em um campo pequeno, no bairro de La Cisterna, com capacidade para apenas 10 mil pessoas, que é alugado junto à prefeitura e não dispõe de iluminação artificial, o que faz com que todos os jogos tenham de ser jogados com luz natural. Mesmo assim, possui uma torcida fiel, em média 2.000 torcedores por partida, além da simpatia de muitos do outro lado do planeta, no Oriente Médio, que vêem na equipe chilena motivo de orgulho e representatividade de suas lutas e dificuldades na busca por um pedaço de chão.
Imagens do jogo contra o Colo Colo, em 1978, e posterior comemoração do título chileno daquele ano.